31 de julho de 2013

NOSSOS PAIS.

Uma mensagem no meu celular na manhã da quinta-feira passada me colocara diante de uma situação que
até então eu evitara, de todas as maneiras possíveis, confrontar. Uma de minhas irmãs me informava que nossa mãe havia passado muito mal na noite de quarta-feira (não entendi porque ela me comunicara apenas na quinta, enfim), que essa tivera fortes dores no peito (para variar ela não quisera ir ao médico e minhas irmãs não insistiram). Disse que tomaram um susto muito grande, que ela chorava de dores, colocando todos eles em pânico, principalmente meus sobrinhos, que até então, dentro de seus parcos sete anos, ainda não haviam presenciado alguém da família tendo algum tipo de problema.
Como eu havia trabalhado na quarta-feira, que é dia de folga do Conselho, eu estava em casa, ainda na cama, descontando minhas horas e pensando em mim, em meus problemas, planejando meu dia, pensando em coisas que só diziam respeito à mim, mas, me recordo que ao acordar, assim como faço todos os dias, havia pedido a Deus que protegesse minha família, em especial aos meus sobrinhos (sempre peço para Deus os manterem longe do perigo, de pessoas maldosas, de pessoas que possam ferir a inocência de ambos), que protegesse meus amigos e que o dia terminasse com todos vivos e em paz, quando, a mensagem chega.
Ao tocar no celular eu esperava uma informação qualquer, essa minha irmã tem por hábito me mandar mensagens toda hora, atoa, às vezes me pedindo para pagar algo para ela, às vezes, me pedindo descaradamente para presentear seu filho com algo que ela não pode comprar, às vezes, simplesmente para pedir para eu abrir o portão, ou para perguntar se eu não tenho um creme, um shampoo ou algo assim para “emprestar”, mas, de repente a mensagem era séria, muito séria, e, confesso que paralisei e vi um mundo de egocentrismo passar diante de mim.
Minhas irmãs e meus sobrinhos moram com meus pais. Eles tem uma casa grande, que serve como base de apoio para a família, é o nosso quartel general, por isso, o contato de minhas irmãs, o afeto, o compartilhamento de tudo com meus pais é intenso, é diário. No meu caso, muitas vezes me pego dando uma desculpa para não ir até lá, pois, o ato de me descolar por uns 800 metros me da preguiça, diante da mensagem de minha irmã fui jogada dentro de uma realidade que até então eu não queria ver: os anos passam, para todos, os problemas aparecem, um dia ou outro, para todos, e, pode aparecer problemas, situações “inconcertáveis”.
Quantas ausências eu dei aos meus pais por achar que tenho todo o tempo do mundo para curti-los. Quantas ausências dei para as pessoas que realmente me amam porque eu estava ocupada com pessoas vazias, com coisas fúteis. Quantas vezes “deixei de deixar” meus pais colocarem os olhos sobre mim, de me fazerem um afago porque os problemas meus, do meu dia a dia, me consumiam? Quantas ausências embasadas nas ocupações, na falta de tempo, na preguiça, no comodismo.
Não consigo saber em qual momento de nossas vidas passamos a achar que problemas só acontecem na vida dos outros ou, que o tempo para, espera, protela.
 O que acontecera com minha mãe aparentemente não fora grave, segundo ela, médica formada, rss:  fora apenas um mal jeito, o que duvidamos que seja, mas, como ela é uma pessoa lúcida deixamos para essa decidir se busca ou não ajuda médica, mas, servira de alerta para eu perceber o quanto nos enganamos ao pensar que teremos tempo para dizer um eu te amo, para dizer o quanto a pessoa é importante em nossa vida, serviu para eu ver o quanto venho sendo egoísta e, que os anos para os meus pais estão passando, assim como para mim, para seus pais e, que os problemas inerentes a idade também estão chegando, e, eu não estava prestando a devida atenção nisso.
Fui criada em uma família extremamente unida e amorosa, onde os almoços de Domingo são cheios de confraternização, carinho e risadas. Venho de uma família em que Natal é época de encontro, festa e confraternização, é época de juntar as famílias de meu pai e minha mãe em um único lugar e comemorar, todos juntos, o milagre da vida. Venho de uma família em que todos tem vida longa, saudável, então  a sombra da perda, da doença me assusta muito, mas, não assusta tanto quanto minhas falhas diante da falta de reciprocidade para o amor que venho recebendo de todos durante o meu tempo de vida.
Fui cuidada com zelo pelos meus pais, ao sinal de qualquer problema que eu possa estar passando esses se munem de cuidado e proteção, apesar de eu dizer que sei me virar sozinha, e, no momento em que a mensagem chegou eu percebi que sou egoísta, que não ando retribuindo meus pais como esses deveriam ser retribuídos, que ando dispersa, ando demais dentro de mim, às vezes, até em mim demais para dar atenção para qualquer outra pessoa que não seja eu e, isso não é algo bonito de se dizer, pois, mostra a negligência com os sentimentos dos outros.
Sempre fui uma pessoa fácil de lidar, como filha não foi e não está sendo diferente. Nunca levantei a voz para meus pais, nunca fui uma filha desobediente, não me lembro de ter dado algum desgosto a esses, mas, sinto que de uns tempos para cá venho me ausentando, venho me envolvendo com muitos projetos de vida e esses me consomem o tempo, quando estou em casa quero descansar, ficar sozinha, curtir minhas coisas, curtir meu eu, meu espaço, meus problemas, minhas decepções. 
Apesar de falar muito, de ter a fala como ferramenta de trabalho, de lidar com muitas pessoas no meu dia a dia, eu sou uma pessoa ligada à solidão, gosto de ficar sozinha e ando a gostar desse afastamento cada vez mais, portanto, isso é bom para mim, mas, eu não pergunto para as pessoas que estão a minha volta se isso é bom para elas, se eu poderia, em algum momento sair de mim e colaborar com elas de alguma forma e, isso se aplica à família. Ando me ausentando demais, talvez por achar que posso voltar amanhã e encontrar tudo do mesmo jeito. A ilusão do eterno, do para sempre me envolvera.
Gostaria de entender o porquê de acharmos que as coisas e pessoas são imutáveis e essas seguem de acordo com nossas vontades, inclusive que temos poder sobre o tempo, sobre o amanhã.
Contei esse fato para ajudar a mim mesma a encarar alguns problemas e para compartilhar com vocês minha experiência, para que nos atentemos para a passagem do tempo, apesar do dia lindo que está lá fora, dia ensolarado que nos passa essa grande sensação de eternidade.
Quantas vezes durante a semana que está se indo você fez um carinho nos seus pais? Já falara para os que te são caros o quanto você os estima? Que tal aproveitarmos hoje, já que o dia está aconchegante, quentinho, convidativo.
Minha mãe veio em minha casa sábado passado. Quando cheguei do trabalho e coloquei meus olhos nela foi como se eu tivesse tomado um calmante, como é bom te-la ali, bem. Logo ela começou a cuidar de mim, preparamos o almoço juntas (meus sobrinhos estavam junto) logo depois ela foi colocar uma capa em um colchão que eu tenho aqui para visita. Como ela sabe que sou meio desleixada para essas coisas, rss, ela se propusera a colocar a capa, a costura-la pois, segundo ela, se deixasse para eu colocar,
a capa não sairia do lugar. Coisas de mãe, rss.



Nenhum comentário:

Postar um comentário

OPINEM.