Uma mensagem no meu celular na manhã da quinta-feira passada
me colocara diante de uma situação que
até então eu evitara, de todas as maneiras
possíveis, confrontar. Uma de minhas irmãs me informava que nossa mãe havia
passado muito mal na noite de quarta-feira (não entendi porque ela me
comunicara apenas na quinta, enfim), que essa tivera fortes dores no peito
(para variar ela não quisera ir ao médico e minhas irmãs não insistiram). Disse
que tomaram um susto muito grande, que ela chorava de dores, colocando todos
eles em pânico, principalmente meus sobrinhos, que até então, dentro de seus
parcos sete anos, ainda não haviam presenciado alguém da família tendo algum
tipo de problema.
Como eu havia trabalhado na quarta-feira, que é dia de folga
do Conselho, eu estava em casa, ainda na cama, descontando minhas horas e
pensando em mim, em meus problemas, planejando meu dia, pensando em coisas que
só diziam respeito à mim, mas, me recordo que ao acordar, assim como faço todos
os dias, havia pedido a Deus que protegesse minha família, em especial aos meus
sobrinhos (sempre peço para Deus os manterem longe do perigo, de pessoas
maldosas, de pessoas que possam ferir a inocência de ambos), que protegesse
meus amigos e que o dia terminasse com todos vivos e em paz, quando, a mensagem
chega.
Ao tocar no celular eu esperava uma informação qualquer,
essa minha irmã tem por hábito me mandar mensagens toda hora, atoa, às vezes me
pedindo para pagar algo para ela, às vezes, me pedindo descaradamente para
presentear seu filho com algo que ela não pode comprar, às vezes, simplesmente
para pedir para eu abrir o portão, ou para perguntar se eu não tenho um creme,
um shampoo ou algo assim para “emprestar”, mas, de repente a mensagem era séria,
muito séria, e, confesso que paralisei e vi um mundo de egocentrismo passar
diante de mim.
Minhas irmãs e meus sobrinhos moram com meus pais. Eles tem
uma casa grande, que serve como base de apoio para a família, é o nosso quartel
general, por isso, o contato de minhas irmãs, o afeto, o compartilhamento de
tudo com meus pais é intenso, é diário. No meu caso, muitas vezes me pego dando
uma desculpa para não ir até lá, pois, o ato de me descolar por uns 800 metros
me da preguiça, diante da mensagem de minha irmã fui jogada dentro de uma realidade
que até então eu não queria ver: os anos passam, para todos, os problemas
aparecem, um dia ou outro, para todos, e, pode aparecer problemas, situações “inconcertáveis”.
Quantas ausências eu dei aos meus pais por achar que tenho
todo o tempo do mundo para curti-los. Quantas ausências dei para as pessoas que
realmente me amam porque eu estava ocupada com pessoas vazias, com coisas fúteis. Quantas vezes “deixei de deixar” meus pais colocarem os olhos sobre mim, de me
fazerem um afago porque os problemas meus, do meu dia a dia, me consumiam? Quantas
ausências embasadas nas ocupações, na falta de tempo, na preguiça, no
comodismo.
Não consigo saber em qual momento de nossas vidas passamos a
achar que problemas só acontecem na vida dos outros ou, que o tempo para,
espera, protela.
O que acontecera com
minha mãe aparentemente não fora grave, segundo ela, médica formada, rss: fora apenas um mal jeito, o que duvidamos que
seja, mas, como ela é uma pessoa lúcida deixamos para essa decidir se busca ou
não ajuda médica, mas, servira de alerta para eu perceber o quanto nos
enganamos ao pensar que teremos tempo para dizer um eu te amo, para dizer o
quanto a pessoa é importante em nossa vida, serviu para eu ver o quanto venho
sendo egoísta e, que os anos para os meus pais estão passando, assim como para
mim, para seus pais e, que os problemas inerentes a idade também estão
chegando, e, eu não estava prestando a devida atenção nisso.
Fui criada em uma família extremamente unida e amorosa,
onde os almoços de Domingo são cheios de confraternização, carinho e risadas. Venho
de uma família em que Natal é época de encontro, festa e confraternização, é
época de juntar as famílias de meu pai e minha mãe em um único lugar e
comemorar, todos juntos, o milagre da vida. Venho de uma família em que todos tem
vida longa, saudável, então a sombra da
perda, da doença me assusta muito, mas, não assusta tanto quanto minhas falhas
diante da falta de reciprocidade para o amor que venho recebendo de todos
durante o meu tempo de vida.
Fui cuidada com zelo pelos meus pais, ao sinal de qualquer
problema que eu possa estar passando esses se munem de cuidado e proteção,
apesar de eu dizer que sei me virar sozinha, e, no momento em que a mensagem
chegou eu percebi que sou egoísta, que não ando retribuindo meus pais como esses
deveriam ser retribuídos, que ando dispersa, ando demais dentro de mim, às
vezes, até em mim demais para dar atenção para qualquer outra pessoa que não
seja eu e, isso não é algo bonito de se dizer, pois, mostra a negligência com
os sentimentos dos outros.
Sempre fui uma pessoa fácil de lidar, como filha não foi e
não está sendo diferente. Nunca levantei a voz para meus pais, nunca fui uma
filha desobediente, não me lembro de ter dado algum desgosto a esses, mas,
sinto que de uns tempos para cá venho me ausentando, venho me envolvendo com
muitos projetos de vida e esses me consomem o tempo, quando estou em casa quero
descansar, ficar sozinha, curtir minhas coisas, curtir meu eu, meu espaço, meus
problemas, minhas decepções.
Apesar
de falar muito, de ter a fala como ferramenta de trabalho, de lidar com muitas
pessoas no meu dia a dia, eu sou uma pessoa ligada à solidão, gosto de ficar
sozinha e ando a gostar desse afastamento cada vez mais, portanto, isso é bom
para mim, mas, eu não pergunto para as pessoas que estão a minha volta se isso
é bom para elas, se eu poderia, em algum momento sair de mim e colaborar com
elas de alguma forma e, isso se aplica à família. Ando me ausentando demais, talvez por achar que posso voltar amanhã e encontrar tudo do mesmo jeito. A ilusão do
eterno, do para sempre me envolvera.
Gostaria de entender o porquê de acharmos
que as coisas e pessoas são imutáveis e essas seguem de acordo com nossas
vontades, inclusive que temos poder sobre o tempo, sobre o amanhã.
Contei esse fato para ajudar a mim mesma a encarar alguns
problemas e para compartilhar com vocês minha experiência, para que nos
atentemos para a passagem do tempo, apesar do dia lindo que está lá fora, dia
ensolarado que nos passa essa grande sensação de eternidade.

Minha mãe veio em minha casa sábado passado. Quando cheguei
do trabalho e coloquei meus olhos nela foi como se eu tivesse tomado um
calmante, como é bom te-la ali, bem. Logo ela começou a cuidar de mim,
preparamos o almoço juntas (meus sobrinhos estavam junto) logo depois ela foi
colocar uma capa em um colchão que eu tenho aqui para visita. Como ela sabe que
sou meio desleixada para essas coisas, rss, ela se propusera a colocar a capa,
a costura-la pois, segundo ela, se deixasse para eu colocar,
a capa não sairia
do lugar. Coisas de mãe, rss.
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