Já
faz alguns dias que ando incomodada com a nossa condição de ser humano, aliás,
faz meses, ou ano, anos.
Venho
a observar algumas coisas e a impressão que tenho, essa impressão é cada vez
mais forte, é que estamos sozinhos, “fudidos” e mal pagos nesse mundo que, se
dependesse de mim, eu não teria conhecido.
Tenho muitas amigas, algumas muito religiosas, que se revoltam quando eu digo que preferia
não ter nascido, elas dizem que isso é blasfêmia. Blasfêmia é me submeter a uma
coisa que eu não pedi para passar por ela: eu não queria estar aqui, passar
pelas coisas que passo, desde a discriminação a angústia de não saber o que fazer
de meu futuro, se é que eu posso ter controle sobre isso. Se partirmos do
pressuposto que Deus é pai, bondoso e carinhoso, compreensivo, onipotente,
onipresente, não seria crueldade ele dar a vida, sem perguntar para a pessoa se
ela gostaria de te-la? O livre arbítrio seria o que nesse caso? Sendo assim,
ele não seria um tirano?
As
frases feitas do Facebook: você é dono do seu destino, a vida é feita de
escolhas, amanhã é outro dia e, certamente será melhor que esse, etc, tudo isso
são conceitos que muitas das pessoas tentam usar para manterem-se de pé, no
fundo, somente as pessoas mais simples, que tiveram o privilégio de ter pouco
conhecimento, portanto, não tiveram acesso à filosofia, sociologia, teologia,
etc, é que acreditam que somos donos do nosso destino (disse privilégio pois,
ter conhecimento, às vezes, é torturante, pois, você descobre que não é nada,
que não manda nada, que não tem controle de nada, sobre nada e, que você pode
até se achar o maioral, mas, dentro de segundos você pode não estar aqui para
ler esse texto, e, somente quem tem pouco conhecimento não se angustia com essa
verdade irrefutável).
Temos
livre arbítrio, fazemos nossas escolhas? Se tivéssemos livre arbítrio seríamos
todos ricos. Aí você me dirá: mas, Deus sabe o que é melhor para você. Aí eu te
pergunto: mas, se ele me dera livre arbítrio, não deveria ser minha a decisão
de ser rica ou não?
A
vida é feita de escolhas? Caímos no mesmo conceito acima: eu escolho ser rica,
nem por isso eu sou. Você dirá: mas você tem que lutar, mas, percebem que algumas pessoas não
lutam, e, mesmo assim são ricas? Mas, devem ter feito algo bom aos olhos de
Deus. Sendo assim ele não estaria fazendo distinção entre seus filhos,
portanto, discriminando-os? Que pai colocaria um filho de castigo, deixando-o sem
comer, e daria comida para o outro, enquanto o “pecaminoso” olha, esfomeado?
Eu
começo a perceber as pessoas se perdendo. Vão para a igreja para cumprir
rituais nos quais não acreditam, por puro medo do castigo divino, porém, ir em
um lugar em que se ensina respeito ao próximo e não respeitá-lo não contraria o
seu Deus?
Não
temos livre arbítrio, não temos escolhas, não temos saída.
Quando
você passa pelo Facebook você percebe que muitas pessoas já perceberam isso,
pois, o Face é meio elitizado, a grande maioria das pessoas tem um certo grau de “culteza”,
e, você percebe a angústia das pessoas. É uma necessidade de acreditar que
amanhã será diferente, que a vida é feita de escolhas, para assim, acreditar
que o erro não é meu, foi o outro quem escolhera mal, uma necessidade de se
fazer notável (com fotos várias, até apelos vários).
“Ficar em companhia de si próprio é uma tortura para esse
enorme contingente de pessoas que é condicionado a viver para fora, seja
voltado para o consumo descontrolado, seja para o exibicionismo frívolo. É aí
que as redes sociais entram fornecendo todas as ferramentas necessárias para
que nunca se sintam sós e exibam para o maior número possível de
"admiradores" suas insignificantes conquistas: um bíceps mais
volumoso, um carro novo, uma namorada linda, uma viagem etc. Na ausência disso,
ao menos a ilusão de que seus amigos virtuais estarão lá para ler as bobagens
íntimas que essa gente não tem o menor pudor de expor a público”.
Se a vida é feita de escolhas, qual a razão das
angústias? Não seria mais fácil apenas escolher alguém, que tem o mesmo jeitão
seu e ir se ajeitando. Mas o alguém o escolheria? Se a vida é feita de
escolha esse alguém já não fizera a escolha dele, porém, se você o escolheu e
dizem que temos livre arbítrio, direito de escolha, como conciliar o
seu direito, a sua escolha com o direito e as escolhas do outro?
Sei que podem estar me achando depre, eu não os
condeno, vocês possuem o livre “arbítrio” de pensarem o que querem, e eu, o livre “arbítrio” de dizer o que
quero, mas, acreditam mesmo que tudo acontece em nossa vida do jeito que a
gente escolhe?

Uma vez aqui não sabemos o que nos espera no
dia seguinte. Aqueles que tem fé, ou fingem te-la para sobreviver dirá: seja o
que Deus quiser, mas, não tenho livre arbítrio, a vida não é feita de escolhas? Por que não nos foi dado o direito de escolhermos se queríamos ou não passar por essas
situações?
A vida é feita de escolha? Você tem livre arbítrio?
Prove-me.
Se temos livre arbítrio e a vida é feita de
escolha, queria ser eterna, queria que meus amados fossem eternos, queria o
direito de ter quem amo, queria saber para onde irei depois que partir daqui. Ai
você me dirá: mas essas respostas só a Deus pertencem. Eu digo, mas, não temos
o livre arbítrio? Não temos o direito de questionar nosso pai? Pai lembra família, família não é espaços de amor, confraternização, diálogo, então, como pode me ser
negado o direito de saber o que é essa coisa estranha que todos chamam vida?

Enfim. Não gosto de estar aqui, não gosto dessa
escuridão (dizem que enxergamos, mas, o que vemos é realmente o que vemos?).
Você me dirá: não se pode perguntar, apenas
viver. Vivemos? Ultimamente só compramos, moldamos o corpo, fora do padrão você
não pode nem amar e ser amado, humilhamos, discriminamos, choramos, sorrimos pouco
e nos matamos de trabalhar, além de matarmos uns aos outros, de acharmos que
somos superiores etc, é isso o que chamam de vida? Ah, mas, a vida é feita de escolha né, eu escolhi esse mundo injusto. Temos livre arbítrio? Então quero acordar rica, morando em um país onde não há injustiças, dores, fome, violência, um mundo onde todos se amam, se aceitem, se respeitem. Fiz minha escolha baseada no meu arbítrio.
(S.C).
(S.C).
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