28 de abril de 2013

ANGÚSTIA.


Já faz alguns dias que ando incomodada com a nossa condição de ser humano, aliás, faz meses, ou ano, anos.
Venho a observar algumas coisas e a impressão que tenho, essa impressão é cada vez mais forte, é que estamos sozinhos, “fudidos” e mal pagos nesse mundo que, se dependesse de mim, eu não teria conhecido.
Tenho muitas amigas, algumas muito religiosas, que se revoltam quando eu digo que preferia não ter nascido, elas dizem que isso é blasfêmia. Blasfêmia é me submeter a uma coisa que eu não pedi para passar por ela: eu não queria estar aqui, passar pelas coisas que passo, desde a discriminação a angústia de não saber o que fazer de meu futuro, se é que eu posso ter controle sobre isso. Se partirmos do pressuposto que Deus é pai, bondoso e carinhoso, compreensivo, onipotente, onipresente, não seria crueldade ele dar a vida, sem perguntar para a pessoa se ela gostaria de te-la? O livre arbítrio seria o que nesse caso? Sendo assim, ele não seria um tirano?
As frases feitas do Facebook: você é dono do seu destino, a vida é feita de escolhas, amanhã é outro dia e, certamente será melhor que esse, etc, tudo isso são conceitos que muitas das pessoas tentam usar para manterem-se de pé, no fundo, somente as pessoas mais simples, que tiveram o privilégio de ter pouco conhecimento, portanto, não tiveram acesso à filosofia, sociologia, teologia, etc, é que acreditam que somos donos do nosso destino (disse privilégio pois, ter conhecimento, às vezes, é torturante, pois, você descobre que não é nada, que não manda nada, que não tem controle de nada, sobre nada e, que você pode até se achar o maioral, mas, dentro de segundos você pode não estar aqui para ler esse texto, e, somente quem tem pouco conhecimento não se angustia com essa verdade irrefutável).
Temos livre arbítrio, fazemos nossas escolhas? Se tivéssemos livre arbítrio seríamos todos ricos. Aí você me dirá: mas, Deus sabe o que é melhor para você. Aí eu te pergunto: mas, se ele me dera livre arbítrio, não deveria ser minha a decisão de ser rica ou não?
A vida é feita de escolhas? Caímos no mesmo conceito acima: eu escolho ser rica, nem por isso eu sou. Você dirá: mas você tem que lutar, mas, percebem que algumas pessoas não lutam, e, mesmo assim são ricas? Mas, devem ter feito algo bom aos olhos de Deus. Sendo assim ele não estaria fazendo distinção entre seus filhos, portanto, discriminando-os? Que pai colocaria um filho de castigo, deixando-o sem comer, e daria comida para o outro, enquanto o “pecaminoso” olha, esfomeado?
Eu começo a perceber as pessoas se perdendo. Vão para a igreja para cumprir rituais nos quais não acreditam, por puro medo do castigo divino, porém, ir em um lugar em que se ensina respeito ao próximo e não respeitá-lo não contraria o seu Deus?
Não temos livre arbítrio, não temos escolhas, não temos saída.
Quando você passa pelo Facebook você percebe que muitas pessoas já perceberam isso, pois, o Face é meio elitizado, a grande maioria das pessoas tem um certo grau de “culteza”, e, você percebe a angústia das pessoas. É uma necessidade de acreditar que amanhã será diferente, que a vida é feita de escolhas, para assim, acreditar que o erro não é meu, foi o outro quem escolhera mal, uma necessidade de se fazer notável (com fotos várias, até apelos vários).
“Ficar em companhia de si próprio é uma tortura para esse enorme contingente de pessoas que é condicionado a viver para fora, seja voltado para o consumo descontrolado, seja para o exibicionismo frívolo. É aí que as redes sociais entram fornecendo todas as ferramentas necessárias para que nunca se sintam sós e exibam para o maior número possível de "admiradores" suas insignificantes conquistas: um bíceps mais volumoso, um carro novo, uma namorada linda, uma viagem etc. Na ausência disso, ao menos a ilusão de que seus amigos virtuais estarão lá para ler as bobagens íntimas que essa gente não tem o menor pudor de expor a público”.
Se a vida é feita de escolhas, qual a razão das angústias? Não seria mais fácil apenas escolher alguém, que tem o mesmo jeitão seu e ir se ajeitando. Mas o alguém o escolheria? Se a vida é feita de escolha esse alguém já não fizera a escolha dele, porém, se você o escolheu e dizem que temos livre arbítrio, direito de escolha, como conciliar o seu direito, a sua escolha com o direito e as escolhas do outro?
Sei que podem estar me achando depre, eu não os condeno, vocês possuem o livre “arbítrio” de pensarem o que querem,  e eu, o livre “arbítrio” de dizer o que quero, mas, acreditam mesmo que tudo acontece em nossa vida do jeito que a gente escolhe?
Alguém, em sã consciência escolheria perder as pessoas que ama? Alguém, dentro do útero teria condições de escolher nascer com algum tipo de deficiência? Ai você me dirá que a família da criança precisaria conviver com aquela situação para aprender alguma coisa. Isso não é pensamento de pessoas que acreditam em um Deus de bondade. Vocês esfaqueariam um filho para provar a ele ou ensinar um irmão, irmã que brincar com faca é perigoso?
Uma vez aqui não sabemos o que nos espera no dia seguinte. Aqueles que tem fé, ou fingem te-la para sobreviver dirá: seja o que Deus quiser, mas, não tenho livre arbítrio, a vida não é feita de escolhas? Por que não nos foi dado o direito de escolhermos se queríamos ou não passar por essas situações?
A vida é feita de escolha? Você tem livre arbítrio? Prove-me.
Se temos livre arbítrio e a vida é feita de escolha, queria ser eterna, queria que meus amados fossem eternos, queria o direito de ter quem amo, queria saber para onde irei depois que partir daqui. Ai você me dirá: mas essas respostas só a Deus pertencem. Eu digo, mas, não temos o livre arbítrio? Não temos o direito de questionar nosso pai? Pai lembra família, família não é espaços de amor, confraternização, diálogo, então, como pode me ser negado o direito de saber o que é essa coisa estranha que todos chamam vida?
Viver é maravilhoso, temos que dar graças a Deus por estarmos vivos. Como assim?  Não sabemos como é a morte, como podemos dizer que isso aqui é vida? E, se a vida for o que estiver por vir?
Enfim. Não gosto de estar aqui, não gosto dessa escuridão (dizem que enxergamos, mas, o que vemos é realmente o que vemos?).
Você me dirá: não se pode perguntar, apenas viver. Vivemos? Ultimamente só compramos, moldamos o corpo, fora do padrão você não pode nem amar e ser amado, humilhamos, discriminamos, choramos, sorrimos pouco e nos matamos de trabalhar, além de matarmos uns aos outros, de acharmos que somos superiores etc,  é isso o que chamam de vida? Ah, mas, a vida é feita de escolha né, eu escolhi esse mundo injusto. Temos livre arbítrio? Então quero acordar rica, morando em um país onde não há injustiças, dores, fome, violência, um mundo onde todos se amam, se aceitem, se respeitem. Fiz minha escolha baseada no meu arbítrio.

(S.C).

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