Um artigo da Revista Época, no blog 7x7(, AQUI, NA INTEGRA.) me trouxe
recordações e reflexões da adolescência.
Quando eu tinha por volta de quinze anos conheci uma garota
que virou minha melhor amiga. Éramos carne e unha. Eu, como sou uma pessoa mais
discreta, do tipo que morre de medo de incomodar as pessoas, raramente ia até a
casa dessa, mas, ela na minha casa era como se fosse da casa rss, tão assidua era a frequência
dela lá. Parecia uma integrante da família.
Quando eu completei dezesseis anos fui convidada a
participar de uma seleção de empregos para preencher duas vagas para auxiliar
de laboratório em uma usina de açúcar e álcool, e, essa amiga foi disputar as vagas comigo. Eu, com mais estudos, demonstrando que tinha condições de crescer
no emprego, fiquei com uma das vagas. Minha "amiga" foi desclassificada. Acho que começou aí a questão da disputa.
Eu trabalhava durante o dia, estudava a noite. A minha ex
melhor amiga não trabalhava, nem estudava, então, ela passava o dia usufruindo
de minhas coisas: emprestava minhas roupas (até as meias), meu walkman
(affffffff, até o nome é estranho hoje com os ipods, os iphones, os mp3, 4, 5,
20, etc), minha família. Já disse, ela praticamente morava em minha casa.
Quando eu ia para algum passeio, ela ia junto, isso incluía a
casa dos meus parentes. Quando tinha algum baile, a mãe dessa só a deixava ir
se eu fosse junto, pois, segundo a mãe, eu tinha juízo (frisando, tinha, rss).
Minha amiga era uma parasita, mas, eu, como nunca fui uma
pessoa do mal, não me importava muito com isso. Apesar do parasitismo, ela era
legal.
Um dia, sem intenção, como é comum entre amigas, disse a
essa que estava interessada no fulano. Pronto, isso foi o suficiente para a tal
amiga se inscrever na empreitada de unir os pombinhos. O fulano, jovem, bonito,
bem empregado, começou a fazer parte dos sonhos de minha “amiga”, secretamente.
Na minha frente ela se mostrava cúmplice de meus devaneios (ahhhhhhh, como ele
é lindo, a lua é linda, tudo é lindo (o cara não era lá essas coisas, mas, na
minha cabeça apaixonada, rss, boca virgem, outras coisas virgens também, ele
ganhou forma de príncipe), e ela ali, firme e forte me incentivando a falar
para ele desse “amor platônico”. Foram vários meses assim. A traíra emprestava
minhas roupas até para encontrá-lo, começaram um romance secreto, e, na minha
frente ela era minha ouvinte mais atenta. Eu, meninona simples do interior do
Paraná, não percebia com quem eu estava lidando (acho que, após ela perder a
vaga de emprego para mim ficou um certo ranço nela, conseguir me tirar algo
virou questão de honra, ou era falta de caráter mesmo).
Um dia uma outra amiga, essa muito mais sincera, pessoa com
quem falo até hoje, vinte anos depois do ocorrido, me abriu os olhos. Cheguei na
“amiga” e falei calmamente que ela não precisava ter sido tão rasteira e tão
covarde, pois, eu não tinha intenção de ficar com ele (sei) pensava seriamente
nos meus estudos (isso era verdade) e, que ela podia ter sido mais honesta e
ter falado a verdade (pensa a raiva que eu estava remoendo, mas, eu sou
extremamente orgulhosa, nunca fui de correr atrás de macho e me envolver em
baixaria, eu sempre tive muito cuidado com minha imagem).
A garota pediu mil desculpas, tentou se justificar, colocar
a culpa no cara, que a seduziu (tadinha, inocente), mas, nossa amizade parou
por aí. Apesar da traição eu senti falta da amiga ( ta, eu concordo, eu sou
idiota, me apego muito as pessoas, talvez tem fundo explicativo em Freud, rsss,
tenho dificuldade em maltratar as pessoas, pisar em seus sentimentos,
mesmo quando a revanche é necessária).
Conto a vocês esse episódio só para ilustrar minha reflexão
sobre essa relação entre amigos.
Tenho amigas que sabem mais de minha vida e meus sonhos,
desejos, problemas que minhas irmãs.
Por termos vivência parecidas, por termos contato diário,
cresceu um amor bonito entre a gente, coisa de irmãs, que só se diferencia pelo
sangue que corre nas veias. Com essas pessoas eu desabo, eu rio, eu me
escandalizo, rsss, choro, “segredamos”. Uma sabe o que se passa com a outra só
de olhar. Fico a imaginar onde caberia a inveja nisso tudo. Nós lutamos juntas, sabemos das necessidades uma da outra, sabemos o que machuca a outra, o
que faz a outra feliz, sabemos das histórias e alegrias que vivenciamos
com os filhos, maridos, namorados, ficantes, fincantes, rss, e, talvez por
causa da criação que eu tive, que fora embasada na sinceridade, lealdade,
honestidade, leveza, acho meio cruel ferir outro ser humano e passar a ter
sentimentos de inveja, raiva, maldade para com esse (às vezes, acho que esse
mundo é cruel demais para mim e culpo meus pais por terem me incentivado a ter
sentimentos nobres).
Traição entre amigos tende a ser pior que traição marido e
mulher, pois, na maioria dos casos, nem os parceiros nos conhecem tão
profundamente quanto alguns amigos. É dolorido ver sua vida exposta por alguém que
você acreditava ter respeito pelos seus sonhos, segredos, alegrias.
Tenho muitos defeitos (orgulhosa, mandona, impaciente,
agitada, meio intolerante), mas, prezo pelas amizades, cuido dos sentimentos
que as pessoas depositam em minhas mãos.Tenho meus defeitos como amiga: sarrista, adoro zuar meus
cristos (as pessoas do grupo escolhidas para serem zuadas por causa de suas
características, digamos, diferente, rss), sou exigente com os amigos, não
gosto que se atrasem, por exemplo, para compromissos (uma característica minha
que quero impor aos amigos), mas, tenho a melhor qualidade como amiga:(se acha
né) respeito.
Nada é mais nobre que respeitar os segredos, os sonhos, a condição humana do outro. Nada é mais nobre que respeitar as fraquezas, as
diferenças, as lutas, as conquistas. Mais nobre que o respeito é o amor, nas
relações uma qualidade é inerente a outra. O amor gera o respeito, o respeito
conduz o amor e vice versa.
Não levaremos nada dessa vida, acho que seria idiota de
nossa parte passar essa fase aqui nesse planeta pensando em derrubar o outro
para nos beneficiarmos, talvez nem de tempo de usufuir o benefício que conseguistes
com o sofrimento alheio, então, aproveitemos os abraços, os sorrisos, os
momentos com as pessoas queridas (minha "amiga" ficou pouco tempo com o tal príncipe, ela fora trocada por uma prima. Se casou com uma pessoa até boa, mas, tiveram poucas oportunidades de crescer e passam por inúmeras dificuldades, eu juro que não foi praga, mas, eu consegui meu intento, enquanto isso estudei, fiz diversos cursos, como previra, cursei uma universidade, tenho estabilidade, enfim, colhi o que plantei e ela colheu o que plantou).
Já analisastes a qualidade de seus relacionamentos hoje?
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