Há dias penso em escrever sobre o tema cotas raciais, mas,
estava protelando a ideia para me munir de informações. Queria pesquisar se
somente eu sou contrária a essas tais cotas. Após ampla pesquisa (deixo
material para pesquisa em links no fim do texto) tomei coragem para expor minha
indignação sobre o tema, mesmo sabendo que minha voz é inútil, mas, como o blog
é meu vou expor o que eu penso (oia a prepotência, rss).
Na universidade, uma jovem negra consegue alguns pontos para
seu ingressar na tal por ser negra. Não tínhamos essa informação, ela era para
nós uma aluna comum, como a maioria de nós, a maioria pobre, que viam na
licenciatura uma forma de fugir do trabalho pesado (muitos licenciados não tem
vocação, jeito para serem professores, educadores, porém, estar em sala de aula
é muito mais fácil que cortar cana, então). Um dia, a discussão sobre cota
aparece na sala de aula. A maioria, de pobres, muitos desses pobres e brancos,
bolsistas do Programa Escola da Família do governo do estado, se posicionaram
contra as cotas. Não sei o que a levou, em meio aquela imensa maioria, dizer
que era uma beneficiária das tais cotas e que, no momento, estava só pensando
em si, que não perderia a oportunidade de estudar, mesmo por cotas, por causa
do pensamento dos outros (era a opinião dela e eu respeito). Após a discussão,
que, obviamente muitos foram contra, todos voltaram ao seu normal e a vida
continuou, mas, alguma coisa na garota deu sinal de mudanças.
Para provar sua inteligência, para provar que era merecedora
das tais cotas ela mudou. Era notável que ela era muito pobre, mas, a partir
daquele momento ela começou a querer mostrar que tinha algum Q a mais. Mudou a
forma de se vestir, se empenhava ao máximo para mostrar certo refinamento. O cabelo,
alisado (não tenho nada contra, mas, prefiro assumir meu cabelo afro, seria o
mais correto para ela fazer também já que assumira aceitar ser negra aceitando
as cotas (eu sei que sou chata nesse assunto)), estava sempre muito alinhado,
nas discussões em sala de aula essa passou a se empenhar muito para mostrar que
as cotas não diminuíram sua capacidade intelectual, que essa era apenas uma
ferramenta para ela estar na universidade, começou a cursar inglês e falava
muita coisa em inglês na sala de aula, começou a ficar arrogante.
Esse fato é real. Eu vi isso acontecer na minha frente. Eu que
já era contra as cotas, com esse caso, que eu observava minuciosamente, a minha
contrariedade aumentou. É como se ela precisasse matar um Leão por dia para
provar que ela não era apenas “cotista” que ela tinha cérebro.
É isso o que as cotas fazem com os negros em sala de aula. Para
o governo é uma coisa muito simples. É uma forma de aumentar a popularidade, o
apelo social. Para o negro bolsista, aquele que pensa, obviamente, uma injustiça
que precisará ser superada com notas altas, com presença de espírito e muito
jogo de cintura, pois, a população cobra, joga na cara o tempo todo que o
bolsista de cotas não tem capacidade intelectual para conseguir uma vaga por
seus próprios méritos.
Eu sou negra (meu avô era filho de italianos, minha avó
filha de africanos, minha bisavó foi escrava), portanto, não falo sobre as
cotas sem conhecimento de causa. Eu falo o que eu sinto. As cotas deixam quem
as recebe em uma situação humilhante. É aceitarmos que não temos “massa
cinzenta” para brigarmos por uma vaga no mesmo nível que o branco, mesmo com o
branco pobre, que tem as mesmas dificuldades.
Eu sou casada com branco. Minhas cunhadas são loiras e
quando eu entrei na família todas elas trabalhavam como empregadas domésticas
porque tiveram pouco ou nenhum acesso aos estudos, o sistema, ter que trabalhar
para ajudar a sustentar onze irmãos não as pouparam. Mesmo loiras, elas tiveram
que cursar o EJA (educação para jovens e adultos que sabemos que não ensina ninguém,
já que temos uma carga horária menor, com alunos cansados, professores
desmotivados, professores de artes lecionando matemática, etc) elas também
tiveram que se sujeitar a um sistema educacional ruim, que não qualifica nem
brancos nem negros, e, na hora de ir para a universidade minha pele entra na
frente delas. Nesse ponto, quem está sendo discriminado? É usar combustível
para apagar fogo. Não preciso de cotas, preciso de educação de qualidade,
preciso que respeitem meus direitos à educação. Os brancos, pardos, amarelos,
negros, todos pagam impostos e se morássemos em um país sério, sem corruptos,
esse dinheiro seria revertido em bons sistemas educacionais, em saúde de
qualidade, não precisariam me “dar uma
forcinha” para eu ir para a faculdade. As pessoas brancas, muitas das quais
convivem comigo e eu acompanho o quanto “ralam” para também ter acesso a essa
tal educação, teriam as mesmas condições que eu para brigarem por uma vaga em
universidades publicas e vice versa.
O sistema de cotas é cruel. É uma declaração obvia de que me
acham incapaz de adquirir conhecimento suficiente para me garantir
intelectualmente. Não quero cota, quero respeito.
Segundo os ministros as cotas são pra fazerem uma reparação
social para os negros. Então precisam reservar vagas para negros nos concursos
públicos, já que após a Lei Aurea meus antepassados foram jogados nas ruas sem
qualificação profissional para proverem o próprio sustento. Agora imaginem um
negro sendo gerente de uma empresa pública/privada por sistema de cotas. Tenho arrepios
até em pensar o quanto esse sofreria, mas, seria o certo, não é reparação
social.
Se somos todos iguais perante a Constituição as cotas me faz diferente. Como fica o discurso por igualdade tão difundido por nós, negros?
Vou reivindicar cota de respeito, de dignidade.
A seguir links que falam sobre o tema:




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