Um belo dia aparece em minha casa um ratinho. Apesar das
ratoeiras, iscas, estava difícil vencê-lo (admito, o rato era esperto, rss). Um dia, após várias tentativas frustradas, eu me deparo com o ratinho se
debatendo em uma lata que colocávamos lixo que estava no quintal. Havíamos colocado
uma sacola na lata para facilitar a coleta do lixo. Tudo muito propício. Era só
amarrar a boca da sacola, bater algo sobre ela e o ratinho morreria. Tudo muito
simples se não fosse a dó que se apossou de mim. Apesar de estar ciente dos malefícios
que o ratinho poderia me causar se esse tocasse em alimentos, ficasse “zanzando”
por minha casa, o meu lado humano falou mais alto. Amarrei a boca da sacola e
joguei em um terreno baldio, na esperança que o ratinho morresse sufocado,
longe dos meus olhos, mas, ao mesmo tempo, esperançosa, como exímio roedor, ele
lutaria por sua vida. A minha atitude fora motivo de sarro por parte do meu
marido, mas, fiz o que meu coração mandava naquele momento. Eu não sei tirar a
vida de um ser vivo. Essa é minha atitude perante o mundo, essa é minha atitude
perante a vida.
Porém, podemos tirar algumas conclusões disso tudo. Será que
eu teria a mesma atitude se o ratinho, de alguma forma, fosse uma ameaça maior
para mim? Será que você teria a mesma atitude perante a mesma situação?
O que tem em comum a vida de um rato com a discussão do
aborto de crianças anencéfalas? Semelhança nenhuma. A minha
intenção não é falar sobre os ratos nem sobre o aborto de anencéfalos, a minha
intenção é falar sobre direitos e decisões individuais. Então porque você usou
o exemplo acima? Obviamente para ilustrar que a coragem que eu não tive de
matar o rato, a decisão que eu tomei de deixá-lo viver foi individual. Milhares de pessoas não teriam pudor em matar um rato (o que as
coloca dentro das decisões, atitudes, moralidade, conduta individual). É para
ilustrar que eu não tenho coragem de interromper uma vida. Eu.
Eu fico intrigada quando vejo pessoas se unirem em nome das
religiões para impor o pensamento comum de um grupo ao coletivo. Não sou a
favor do aborto, eu não tiraria uma vida, mas, eu nunca fui colocada em uma situação
em que a minha vida corresse riscos, portanto, eu não tenho embasamento para me
colocar no lugar de quem está sofrendo esse risco.
Segundo ponto, se você tem liberdade, e muitas vezes você grita
para o mundo essa tal liberdade, usando, inclusive, a Constituição, se coloca
numa posição de querer se fazer respeitar por ser dono dos seus atos, dono de
sua vida, dono do direito de ir e vir, porque se colocar em uma posição que
contraria tudo isso quando é a vida de outra pessoa que está sendo discutida,
outra pessoa que tem os mesmos direitos que os seus?
Todos os religiosos clamam que o pecado é individual, assim
como a salvação. Sendo assim, não seria prepotência, arrogância, ditadura,
querer impedir o outro de pecar? Não seria
direito da pessoa que vai abortar decidir se essa quer ou não levar esse “pecado”
adiante? A pessoa pode não ter as mesmas crenças que você. É um direito
Constitucional. O que pode ser pecado para uns pode não ser para outro.
Além desse questionamento o que gostaria de vomitar é o que
muitos já sabem. Proibido ou não, abortos acontecem todos os dias, as centenas,
a maioria esmagadora é de fetos saudáveis (muitos feitos em clinicas riquíssimas), não poderíamos usar essa mesma “revolta”
para cobrarmos prevenção, orientação, intervenções mais eficazes para a saúde da
mulher para evitarmos chegar ao aborto (abortar a ação que levaria ao aborto
com mais educação, políticas preventivas)?Antes de usarmos o nome de Deus para criticarmos, poderíamos nos
colocar um pouco no lugar do outro e sentir suas dores, suas angustias, seus
medos, seus traumas. Isso é ser cristão.
A dor de quem está dentro de um problema como esse, saber que está gerando um filho que não poderá ser embalado nos braços, só pode ser mensurada por quem está passando por ela, o resto é mera especulação e suposição. Deixo claro, estou me referindo ao caso específico, aborto de anencéfalos.
Outra questão: Qual decisão você tomaria se de repente fosse jogado dentro de problema semelhante?
A dor de quem está dentro de um problema como esse, saber que está gerando um filho que não poderá ser embalado nos braços, só pode ser mensurada por quem está passando por ela, o resto é mera especulação e suposição. Deixo claro, estou me referindo ao caso específico, aborto de anencéfalos.
Outra questão: Qual decisão você tomaria se de repente fosse jogado dentro de problema semelhante?
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