13 de abril de 2012

ABORTO É PECADO?


Um belo dia aparece em minha casa um ratinho. Apesar das ratoeiras, iscas, estava difícil vencê-lo (admito, o rato era esperto, rss). Um dia, após várias tentativas frustradas, eu me deparo com o ratinho se debatendo em uma lata que colocávamos lixo que estava no quintal. Havíamos colocado uma sacola na lata para facilitar a coleta do lixo. Tudo muito propício. Era só amarrar a boca da sacola, bater algo sobre ela e o ratinho morreria. Tudo muito simples se não fosse a dó que se apossou de mim. Apesar de estar ciente dos malefícios que o ratinho poderia me causar se esse tocasse em alimentos, ficasse “zanzando” por minha casa, o meu lado humano falou mais alto. Amarrei a boca da sacola e joguei em um terreno baldio, na esperança que o ratinho morresse sufocado, longe dos meus olhos, mas, ao mesmo tempo, esperançosa, como exímio roedor, ele lutaria por sua vida. A minha atitude fora motivo de sarro por parte do meu marido, mas, fiz o que meu coração mandava naquele momento. Eu não sei tirar a vida de um ser vivo. Essa é minha atitude perante o mundo, essa é minha atitude perante a vida.
Porém, podemos tirar algumas conclusões disso tudo. Será que eu teria a mesma atitude se o ratinho, de alguma forma, fosse uma ameaça maior para mim? Será que você teria a mesma atitude perante a mesma situação?
O que tem em comum a vida de um rato com a discussão do aborto de crianças anencéfalas? Semelhança nenhuma. A minha intenção não é falar sobre os ratos nem sobre o aborto de anencéfalos, a minha intenção é falar sobre direitos e decisões individuais. Então porque você usou o exemplo acima? Obviamente para ilustrar que a coragem que eu não tive de matar o rato,  a decisão que eu tomei de deixá-lo viver foi individual. Milhares de pessoas não teriam pudor em matar um rato (o que as coloca dentro das decisões, atitudes, moralidade, conduta individual). É para ilustrar que eu não tenho coragem de interromper uma vida. Eu.
Eu fico intrigada quando vejo pessoas se unirem em nome das religiões para impor o pensamento comum de um grupo ao coletivo. Não sou a favor do aborto, eu não tiraria uma vida, mas, eu nunca fui colocada em uma situação em que a minha vida corresse riscos, portanto, eu não tenho embasamento para me colocar no lugar de quem está sofrendo esse risco.
Segundo ponto, se você tem liberdade, e muitas vezes você grita para o mundo essa tal liberdade, usando, inclusive, a Constituição, se coloca numa posição de querer se fazer respeitar por ser dono dos seus atos, dono de sua vida, dono do direito de ir e vir, porque se colocar em uma posição que contraria tudo isso quando é a vida de outra pessoa que está sendo discutida, outra pessoa que tem os mesmos direitos que os seus?
Todos os religiosos clamam que o pecado é individual, assim como a salvação. Sendo assim, não seria prepotência, arrogância, ditadura, querer impedir o outro de pecar? Não seria direito da pessoa que vai abortar decidir se essa quer ou não levar esse “pecado” adiante? A pessoa pode não ter as mesmas crenças que você. É um direito Constitucional. O que pode ser pecado para uns pode não ser para outro.
Além desse questionamento o que gostaria de vomitar é o que muitos já sabem. Proibido ou não, abortos acontecem todos os dias, as centenas, a maioria esmagadora é de fetos saudáveis (muitos feitos em clinicas riquíssimas), não poderíamos usar essa mesma “revolta” para cobrarmos prevenção, orientação, intervenções mais eficazes para a saúde da mulher para evitarmos chegar ao aborto (abortar a ação que levaria ao aborto com mais educação, políticas preventivas)?Antes de usarmos o nome de Deus para criticarmos, poderíamos nos colocar um pouco no lugar do outro e sentir suas dores, suas angustias, seus medos, seus traumas. Isso é ser cristão.
A dor de quem está dentro de um problema como esse, saber que está gerando um filho que não poderá ser embalado nos braços, só pode ser mensurada por quem está passando por ela, o resto é mera especulação e suposição. Deixo claro, estou me referindo ao caso específico, aborto de anencéfalos.
Outra questão: Qual decisão você tomaria se de repente fosse jogado dentro de problema semelhante?
Pensemos.

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