Tenho um grupo seleto de amigas, grandes amigas, pessoas de
minha total confiança, que estão em quase todos os bons momentos de minha vida
(quase todos porque tem coisas boas que faço sem elas, rss).
Nosso grupo é caracterizado
por ter uma mistura fina. Tem a mãe de todas, a psicóloga, a “pedinte”, a
intelectual, a falante, a centrada, a doida de pedra e, obviamente, tem o
Cristo, que aqui tem o significado de ser aquela pessoa que o grupo escolheu
para literalmente encher o saco.
Nossa “Cristo” sofre. Pessoa ingênua e sem maldade ou malicia, rss, nossa mente sempre poluída e atenta a cada movimento dessa, capta o que
será usado para tirar sarro o resto dos dias, ou dos meses.
Porém, nossa “Cristo”, sempre tão tolerante e bem humorada, tem
um defeito que ela considera sério. Ela sofre de apego, apego em demasia.
Sabemos que algumas coisas deixam em nós cicatrizes, muitas
das quais gostaríamos de esquecer o que as causaram, mas, minha amiga gosta de
suas cicatrizes, as superficiais, na pele, e as profundas, na alma.
Essa guarda de tudo, de ponta de lápis quebrada a papel de
bala, uma lixeira, literalmente (exagero??).
Por motivos de “segurança” (minha, obvio rss) não exporei o
nome dela, mas, ela sabe que eu falaria sobre esse assunto no blog, e pasmem,
ela está adorando (gosta de ibope).
Filha única, ela não sabe nos dizer a partir de qual momento
começou nela a questão da posse, do apego, mas, ela tem consciência do problema
e sofre com isso.
‘Vurteira” que só ela (significado de pessoa meio sem noção,
que faz coisas surreais, rss), minha amiga troca a vida por objetos pessoais. Exagero?
Em um passeio para um clube aquático, essa, quase morrendo
afogada, mantinha em uma das mãos, que ela poderia ter usado para tentar de
debater, ou procurar o fundo da psicininha ( a água batia na canela, rss) uma
chave do armário em que estavam seus pertences. A pessoa da recepção
recomendara a ela ter todo o cuidado possível com a chave, e ela levou isso a
sério, já que a chave era a porta de entrada para ter de volta seus pertences,
etc. iria morrer e salvar a chave, não fosse o guarda vidas.
Em outra ocasião, de novo por causa do “vurto”, essa
escorregou na escada do ônibus chegando à faculdade e fora lançada de encontro
a um outdoor e perfurou a testa, o nariz, pois, batera em uma ponta de arame. Com
o sangue escorrendo na testa, minha amiga só tinha uma única preocupação, a
pasta nova que fora lançada ao chão com o tombo e, na queda, se estragara. Dentro
do grupo isso tudo é motivo de piada, mas, sabemos que o caso é sério.
O problema dela se estende para os relacionamentos, porém, é
nas coisas materiais que percebemos a dificuldade que ela tem em se desfazer de
pequenas coisas: cadernos do primário, anotações, também às roupas (ela usa
umas coisas, às vezes, que eu não poria nem para ficar em casa, rss, eu acho
estranho, mas, respeito, rss, (se ela ler isso vai ser o Ó, kk), brinquedos,
ela tem uma coleção da barbie que a mãe dela mantém escondidas (não me perguntem
o motivo, rss), pulseiras, brincos, etc. tudo para ela é eterno.
Você pode estar se questionando em que isso pode prejudicar alguém?
Pense novamente, pense. Pense na mãe dela fazendo faxina, pense nas teias de
aranha, ácaros, pense que a pessoa tem trinta e um anos (imaginem quanto trambolho
ela não deve ter guardado)? Brincadeiras a parte, ela sofre com o problema. Ela
é capaz de lhe comprar um gibi novo, por exemplo, a lhe emprestar o que ela
tem. Se ela te pedir emprestado um DVD, por exemplo, esqueça, você não o verá
tão cedo, isso se um dia tornar a vê-lo, agora, faça o contrário, empreste um
fio do cabelo dela para você ver. Ela não consegue se desligar que tem algo que
a pertence sobre o poder de outra pessoa.
O relato é ilustrativo, apesar de real. Minha amiga está
procurando mudar esse aspecto da vida dela, aos poucos ela está procurando
fazer uma faxina mental e desfazer-se de coisas que são inúteis, está
procurando ajudar outras pessoas doando coisas que para ela não tem mais valor,
ou, não deveria ter, por perceber que esse apego lhe estava fazendo mal, pois,
refletia em suas ações, atitudes, personalidade.
Voltando a questão dos relacionamentos ela já sofrera com a
questão. A posse a deixa impaciente, o apego a torna possessiva, ou a pessoa é
100% dela ou não é nada. Tudo isso está sendo trabalhado, mas, percebe-se o
sofrimento nela quando as coisas saem do seu controle.
O relato dela me faz perceber que todos temos um lado
possessivo (quando extrapola precisa de ajuda profissional para não prejudicar o
nosso desenvolvimento pessoal, profissional). Todos temos cicatrizes, marcas, objetos
que nos lembram passagens boas e ruins, ninguém passa por essa vida sem ser
marcado por alguma lembrança. Um dia, um mês, um ano, poderá deixar marcas das
quais poderemos sorrir, ou chorar, mas, se nos apegarmos em demasia a elas, poderemos
deixar de prestar atenção em outros atos, em outras cenas, quem sabe deixaremos
de adquirir uma nova e boa cicatriz. Todos temos algo que nos remete a
lembranças, doces ou amargas, um cheiro de perfume, uma musica, uma imagem,
mas, quando tudo isso sobrepõe a realidade é porque está na hora da faxina,
está na hora da limpeza emocional. Não se vive só de lembranças, às vezes, o
armário precisa de roupas novas.
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