8 de fevereiro de 2012

APEGO FAZ MAL?


Tenho um grupo seleto de amigas, grandes amigas, pessoas de minha total confiança, que estão em quase todos os bons momentos de minha vida (quase todos porque tem coisas boas que faço sem elas, rss).
 Nosso grupo é caracterizado por ter uma mistura fina. Tem a mãe de todas, a psicóloga, a “pedinte”, a intelectual, a falante, a centrada, a doida de pedra e, obviamente, tem o Cristo, que aqui tem o significado de ser aquela pessoa que o grupo escolheu para literalmente encher o saco.
Nossa “Cristo” sofre. Pessoa ingênua e sem maldade ou malicia, rss, nossa mente sempre poluída e atenta a cada movimento dessa, capta o que será usado para tirar sarro o resto dos dias, ou dos meses.
Porém, nossa “Cristo”, sempre tão tolerante e bem humorada, tem um defeito que ela considera sério. Ela sofre de apego, apego em demasia.
Sabemos que algumas coisas deixam em nós cicatrizes, muitas das quais gostaríamos de esquecer o que as causaram, mas, minha amiga gosta de suas cicatrizes, as superficiais, na pele, e as profundas, na alma.
Essa guarda de tudo, de ponta de lápis quebrada a papel de bala, uma lixeira, literalmente (exagero??).
Por motivos de “segurança” (minha, obvio rss) não exporei o nome dela, mas, ela sabe que eu falaria sobre esse assunto no blog, e pasmem, ela está adorando (gosta de ibope).
Filha única, ela não sabe nos dizer a partir de qual momento começou nela a questão da posse, do apego, mas, ela tem consciência do problema e sofre com isso.
‘Vurteira” que só ela (significado de pessoa meio sem noção, que faz coisas surreais, rss), minha amiga troca a vida por objetos pessoais. Exagero?
Em um passeio para um clube aquático, essa, quase morrendo afogada, mantinha em uma das mãos, que ela poderia ter usado para tentar de debater, ou procurar o fundo da psicininha ( a água batia na canela, rss) uma chave do armário em que estavam seus pertences. A pessoa da recepção recomendara a ela ter todo o cuidado possível com a chave, e ela levou isso a sério, já que a chave era a porta de entrada para ter de volta seus pertences, etc. iria morrer e salvar a chave, não fosse o guarda vidas.
Em outra ocasião, de novo por causa do “vurto”, essa escorregou na escada do ônibus chegando à faculdade e fora lançada de encontro a um outdoor e perfurou a testa, o nariz, pois, batera em uma ponta de arame. Com o sangue escorrendo na testa, minha amiga só tinha uma única preocupação, a pasta nova que fora lançada ao chão com o tombo e, na queda, se estragara. Dentro do grupo isso tudo é motivo de piada, mas, sabemos que o caso é sério.
O problema dela se estende para os relacionamentos, porém, é nas coisas materiais que percebemos a dificuldade que ela tem em se desfazer de pequenas coisas: cadernos do primário, anotações, também às roupas (ela usa umas coisas, às vezes, que eu não poria nem para ficar em casa, rss, eu acho estranho, mas, respeito, rss, (se ela ler isso vai ser o Ó, kk), brinquedos, ela tem uma coleção da barbie que a mãe dela mantém escondidas (não me perguntem o motivo, rss), pulseiras, brincos, etc. tudo para ela é eterno.
Você pode estar se questionando em que isso pode prejudicar alguém? Pense novamente, pense. Pense na mãe dela fazendo faxina, pense nas teias de aranha, ácaros, pense que a pessoa tem trinta e um anos (imaginem quanto trambolho ela não deve ter guardado)? Brincadeiras a parte, ela sofre com o problema. Ela é capaz de lhe comprar um gibi novo, por exemplo, a lhe emprestar o que ela tem. Se ela te pedir emprestado um DVD, por exemplo, esqueça, você não o verá tão cedo, isso se um dia tornar a vê-lo, agora, faça o contrário, empreste um fio do cabelo dela para você ver. Ela não consegue se desligar que tem algo que a pertence sobre o poder de outra pessoa.
O relato é ilustrativo, apesar de real. Minha amiga está procurando mudar esse aspecto da vida dela, aos poucos ela está procurando fazer uma faxina mental e desfazer-se de coisas que são inúteis, está procurando ajudar outras pessoas doando coisas que para ela não tem mais valor, ou, não deveria ter, por perceber que esse apego lhe estava fazendo mal, pois, refletia em suas ações, atitudes, personalidade.
Voltando a questão dos relacionamentos ela já sofrera com a questão. A posse a deixa impaciente, o apego a torna possessiva, ou a pessoa é 100% dela ou não é nada. Tudo isso está sendo trabalhado, mas, percebe-se o sofrimento nela quando as coisas saem do seu controle.
O relato dela me faz perceber que todos temos um lado possessivo (quando extrapola precisa de ajuda profissional para não prejudicar o nosso desenvolvimento pessoal, profissional). Todos temos cicatrizes, marcas, objetos que nos lembram passagens boas e ruins, ninguém passa por essa vida sem ser marcado por alguma lembrança. Um dia, um mês, um ano, poderá deixar marcas das quais poderemos sorrir, ou chorar, mas, se nos apegarmos em demasia a elas, poderemos deixar de prestar atenção em outros atos, em outras cenas, quem sabe deixaremos de adquirir uma nova e boa cicatriz. Todos temos algo que nos remete a lembranças, doces ou amargas, um cheiro de perfume, uma musica, uma imagem, mas, quando tudo isso sobrepõe a realidade é porque está na hora da faxina, está na hora da limpeza emocional. Não se vive só de lembranças, às vezes, o armário precisa de roupas novas.

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