Lave bem a cabeça do pipi viu? Esse
sabão aqui é para higienizar, para não deixar resíduos na urina. Essa fala, que
fora acompanhada por risos de outros pacientes que estvam em uma sala de espera
do HC de Rubião fora de uma enfermeira para um senhor de uns setenta e cinco
anos, de aparência frágil, desacompanhado.
Achei a cena indelicada, apesar
de que de onde ele, o senhor, estava ele não via as outras pessoas, mas, essas,
sabiam que era esse quem se encontrava no banheiro. Imaginei o constrangimento
quando esse saísse do cômodo reservado. Saiu, meio perdido naquele ambiente que
remete a doenças, meio cambaleante, a idade já está deixando-o com alguns
problemas nos movimentos, meio sem jeito, com potinhos de urina nas mãos,
ajeitando as roupas, informou que os deixariam sobre o pedido do exame, na
mesinha, ao que uma enfermeira assentiu com a cabeça e, ao que esse começou a
se retirar, sozinho, sem ninguém para ampará-lo, assim como acontece com muitas
pessoas de idade avançada naquele hospital de dimensões enormes, onde são
atendidas pessoas de várias partes do estado e do país e onde se é possível fazer
algumas observações do comportamento humano, no caso acima relatado,
comportamentos, às vezes, preocupantes, conflitantes.
As sextas-feiras, no hospital
mencionado, parece ser o dia dos idosos, rss, 90% das pessoas que se vê nos
corredores aparentam ter mais de setenta anos, muitos dos quais aparecem
desacompanhados, o que provoca, às vezes, até comoção, pois, muitos, por falta
de leitura, confundem os horários, as senhas de espera, o local da consulta,
muitos, por não terem mais domínio total sobre seus movimentos e por isso
possuem dificuldade para se locomoverem naquele espaço enorme, sem ajuda,
muitos por estarem muito debilitados, o que faz pensarmos na vida, na passagem
dos anos.
Sou uma pessoa que ambiciona
viver muito, mas, confesso-vos que a velhice, ou a melhor idade (tenho ideia contrária
a isso, mas, não vou expor o que penso) me assustam. Quando vejo a dificuldade
que os idosos ainda enfrentam começo a rever meus conceitos de longevidade.
Uma vizinha relatou que o pai,
apesar de ainda estar lúcido, deu de evacuar na roupa (traduzindo, cagando nas calças).
Disse que esse não consegue mais tirar a própria camisa por estar com dores nas
“juntas” e que também não consegue mais lavar os próprios pés, assim, elas
precisam “ariar” os pés dele. Segundo informações dessa, algumas das irmãs não
gostam da nova incumbência, nem a esposa, que dividiu mais de quarenta anos com
esse está tendo paciência com a nova situação, situação essa que ela também
pode enfrentar, já que também é idosa.
Essas coisas me “encabulam”.
Meu pai está com sessenta e cinco
anos. Está ótimo, muito bem de saúde, mas, às vezes, se confunde, por exemplo,
com as contas. Pergunto-me se isso é normal ou se a idade o está fazendo confuso.
Confesso que é estranho ver meus pais envelhecerem, às vezes, fico com medo de
não saber o que fazer com eles idosos, fico com medo também de não querer
fazer. Somos frutos de uma sociedade que coloca filhos no mundo para terem assistência,
cuidado e amparo na velhice, compreendo o conceito mas, acho estranho
depositarmos expectativa na vida dos filhos, é como uma cobrança por terem nos
colocado no mundo, assim é o ciclo da vida, mas, assim como eu, acho que muitos
filhos terão medo desse momento, não sei o que fazer se me deparar com meus
pais doentes, precisando serem levados ao banheiro, precisarem de mim para
higienizá-los (terem as bundas limpas), etc. essa mesma preocupação tenho em
relação a mim. Não tenho vontade de ter filhos, não acredito nessa
reciprocidade, de colocar alguém no mundo com a incumbência de me assistir na
velhice mas, do mesmo jeito que não quero ter trabalho para educar, assistir alguém,
penso em não dar trabalho para ninguém na minha velhice, mas, tem coisas,
pensamentos, que me são inevitáveis.
Ao mesmo tempo em que a ciência trabalha
para termos vidas saudáveis, não conseguem trabalhar com o imprevisível. Apesar
da idade, sou muito jovem, rss, me pego muitas vezes pensando lá longe, daqui
uns cinqüenta anos, com meus oitenta e poucos. Não quero morar em um asilo,
acho desumano, de repente, por ser indefeso, tirar a pessoa de suas lembranças
(do meu quarto, do meu cheiro, dos meus lençóis, da minha rua). Fico imaginando
como pode, de repente, aquela pessoa que recebia os filhos, os netos, os
bisnetos em casa, de repente, ser afastada dos seus queridos, terem os olhos
afastados dos rostos que ama, dos cômodos de sua casa e não poder contestar,
não ter condições de argumentar, nem de usar a fala de que sentirá muita
saudade (onde é colocado os sentimentos do idoso nessa hora?).
Não consigo não pensar em mim
quando vejo alguém, por causa da idade avançada, ter dificuldade para descer de
um ônibus, entrar em um carro, subir alguns degraus, cuidar de si próprio com
autonomia. Tenho medo, fico assustada com a degradação de nossa saúde, de nossa
“beleza” (saber que tanta gente coloca a beleza física como prioridade em suas
relações, beleza, algo tão efêmero, e na velhice tão sem importância), com
nossas limitações.
Procuro não me preocupar muito
com o amanhã, procuro seguir a risca os conselhos dos gurus, viva o hoje, carpe
diem, vamos amar, transar, se drogar (para quem curte, o que não é o meu caso),
beber, chutar o balde, só por hoje seja estupendamente feliz, seja inconseqüente
na busca da felicidade, mas, é mais forte que eu, a velhice me preocupa. Por todas
as suas peculiaridades, que, em 70%, apesar de muitos dizerem o contrário,
serem peculiaridades negativas (problemas de saúde, locomoção, independência,
autonomia, vitalidade, etc).
Só peço a Deus que se for para eu
ter vida longa, que eu tenha boa sanidade mental (nem sei se eu a tenho, rss)
pois, quero ter certeza que tomei banho e passei o meu perfume favorito, pelo menos.
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