14 de janeiro de 2012

ENVELHECER TE ASSUSTA?



Lave bem a cabeça do pipi viu? Esse sabão aqui é para higienizar, para não deixar resíduos na urina. Essa fala, que fora acompanhada por risos de outros pacientes que estvam em uma sala de espera do HC de Rubião fora de uma enfermeira para um senhor de uns setenta e cinco anos, de aparência frágil, desacompanhado.
Achei a cena indelicada, apesar de que de onde ele, o senhor, estava ele não via as outras pessoas, mas, essas, sabiam que era esse quem se encontrava no banheiro. Imaginei o constrangimento quando esse saísse do cômodo reservado. Saiu, meio perdido naquele ambiente que remete a doenças, meio cambaleante, a idade já está deixando-o com alguns problemas nos movimentos, meio sem jeito, com potinhos de urina nas mãos, ajeitando as roupas, informou que os deixariam sobre o pedido do exame, na mesinha, ao que uma enfermeira assentiu com a cabeça e, ao que esse começou a se retirar, sozinho, sem ninguém para ampará-lo, assim como acontece com muitas pessoas de idade avançada naquele hospital de dimensões enormes, onde são atendidas pessoas de várias partes do estado e do país e onde se é possível fazer algumas observações do comportamento humano, no caso acima relatado, comportamentos, às vezes, preocupantes, conflitantes.
As sextas-feiras, no hospital mencionado, parece ser o dia dos idosos, rss, 90% das pessoas que se vê nos corredores aparentam ter mais de setenta anos, muitos dos quais aparecem desacompanhados, o que provoca, às vezes, até comoção, pois, muitos, por falta de leitura, confundem os horários, as senhas de espera, o local da consulta, muitos, por não terem mais domínio total sobre seus movimentos e por isso possuem dificuldade para se locomoverem naquele espaço enorme, sem ajuda, muitos por estarem muito debilitados, o que faz pensarmos na vida, na passagem dos anos.
Sou uma pessoa que ambiciona viver muito, mas, confesso-vos que a velhice, ou a melhor idade (tenho ideia contrária a isso, mas, não vou expor o que penso) me assustam. Quando vejo a dificuldade que os idosos ainda enfrentam começo a rever meus conceitos de longevidade.
Uma vizinha relatou que o pai, apesar de ainda estar lúcido, deu de evacuar na roupa (traduzindo, cagando nas calças). Disse que esse não consegue mais tirar a própria camisa por estar com dores nas “juntas” e que também não consegue mais lavar os próprios pés, assim, elas precisam “ariar” os pés dele. Segundo informações dessa, algumas das irmãs não gostam da nova incumbência, nem a esposa, que dividiu mais de quarenta anos com esse está tendo paciência com a nova situação, situação essa que ela também pode enfrentar, já que também é idosa.
Essas coisas me “encabulam”.
Meu pai está com sessenta e cinco anos. Está ótimo, muito bem de saúde, mas, às vezes, se confunde, por exemplo, com as contas. Pergunto-me se isso é normal ou se a idade o está fazendo confuso. Confesso que é estranho ver meus pais envelhecerem, às vezes, fico com medo de não saber o que fazer com eles idosos, fico com medo também de não querer fazer. Somos frutos de uma sociedade que coloca filhos no mundo para terem assistência, cuidado e amparo na velhice, compreendo o conceito mas, acho estranho depositarmos expectativa na vida dos filhos, é como uma cobrança por terem nos colocado no mundo, assim é o ciclo da vida, mas, assim como eu, acho que muitos filhos terão medo desse momento, não sei o que fazer se me deparar com meus pais doentes, precisando serem levados ao banheiro, precisarem de mim para higienizá-los (terem as bundas limpas), etc. essa mesma preocupação tenho em relação a mim. Não tenho vontade de ter filhos, não acredito nessa reciprocidade, de colocar alguém no mundo com a incumbência de me assistir na velhice mas, do mesmo jeito que não quero ter trabalho para educar, assistir alguém, penso em não dar trabalho para ninguém na minha velhice, mas, tem coisas, pensamentos, que me são inevitáveis.
Ao mesmo tempo em que a ciência trabalha para termos vidas saudáveis, não conseguem trabalhar com o imprevisível. Apesar da idade, sou muito jovem, rss, me pego muitas vezes pensando lá longe, daqui uns cinqüenta anos, com meus oitenta e poucos. Não quero morar em um asilo, acho desumano, de repente, por ser indefeso, tirar a pessoa de suas lembranças (do meu quarto, do meu cheiro, dos meus lençóis, da minha rua). Fico imaginando como pode, de repente, aquela pessoa que recebia os filhos, os netos, os bisnetos em casa, de repente, ser afastada dos seus queridos, terem os olhos afastados dos rostos que ama, dos cômodos de sua casa e não poder contestar, não ter condições de argumentar, nem de usar a fala de que sentirá muita saudade (onde é colocado os sentimentos do idoso nessa hora?).
Não consigo não pensar em mim quando vejo alguém, por causa da idade avançada, ter dificuldade para descer de um ônibus, entrar em um carro, subir alguns degraus, cuidar de si próprio com autonomia. Tenho medo, fico assustada com a degradação de nossa saúde, de nossa “beleza” (saber que tanta gente coloca a beleza física como prioridade em suas relações, beleza, algo tão efêmero, e na velhice tão sem importância), com nossas limitações.
Procuro não me preocupar muito com o amanhã, procuro seguir a risca os conselhos dos gurus, viva o hoje, carpe diem, vamos amar, transar, se drogar (para quem curte, o que não é o meu caso), beber, chutar o balde, só por hoje seja estupendamente feliz, seja inconseqüente na busca da felicidade, mas, é mais forte que eu, a velhice me preocupa. Por todas as suas peculiaridades, que, em 70%, apesar de muitos dizerem o contrário, serem peculiaridades negativas (problemas de saúde, locomoção, independência, autonomia, vitalidade, etc).
Só peço a Deus que se for para eu ter vida longa, que eu tenha boa sanidade mental (nem sei se eu a tenho, rss) pois, quero ter certeza que tomei banho e passei  o meu perfume favorito, pelo menos.


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