8 de fevereiro de 2012

SUTILEZAS


Tenho um sobrinho de quase seis anos, precisamente cinco anos e dez meses, que tem uma imaginação extraordinária. Sei que toda criança tem esse lado desenvolvido, mas, o meu pequeno consegue extrapolar, parece que ele vive na Terra do Nunca, apesar de ser uma criança ativa, inteligente (isso ele herdou da tia aqui, rss).
Minha mãe inventara fazer pamonhas. Como é um prato que quase todos gostam, a familia se reuniu para a degustação (nclusive eu, que fiz a cirurgia, kk, da nada não, como dizem), quando minha irmã caçula diz que não gosta de pamonha. Diante da fala dela esse meu sobrinho manda a pérola. Disse que quando ainda estava na barriga da mãe dele, no Paraná, e morávamos na casa de tábua (nessa época a mãe dele não tinha mais que oito anos de idade), ele, após olhar através do buraco do umbigo da mãe dele, vira minha irmã comer pamonha, sugerindo que ela estava mentindo.
No caso dele sabemos que ele não estava falando a verdade, também não estava mentindo, mas, às vezes, ele nos surpreende com suas falas mirabolantes. Ele sabe que morávamos no Paraná, que morávamos no sítio, mas, não sabemos como ele consegue entrelaçar as histórias e falar essas barbaridades.
Ele “inventa” muitas histórias de quando era bebe, tem coisas que ele fala que não tem muito nexo para nós, de repente para ele tenha mas, não nos importamos nem o desmentimos, a gente deixa a imaginação dele fluir, a gente deixa ele embarcar nas viagens dele.
É lindo vê-los expressarem dentro da grande inocência que eles possuem (digo eles porque tenho outro sobrinho e eles possuem a mesma idade, mas, não são imãos gêmeos, são primos).
Meu marido dissera para o “imaginário” que ele estava ficando gordo pois, o zíper da bermuda nem fechava mais. Diante da fala do tio, ele, o contador de história, segura a bermuda e diz que meu marido tem razão, que ele engordara mesmo, inclusive que o pinto dele (falado assim, perto de umas seis pessoas, eu, meus pais, minhas irmãs, o primo) é que não deixava o zíper ser fechado pois, estava gordo também, a fala vem acompanhada do gesto de tirar o pipi para fora para verificarmos com nossos próprios olhos o que ele tentava explicar, a fala viera acompanhada do exemplo. Rimos, e, ele, que na verdade só queria que víssemos que o “pinto” dele estava grande a ponto de atrapalhar o fecho da bermuda, ficara desconcertado.  Minha mãe aproveitou para repreendê-lo (não concordei porque ele não fizera uma exposição do membro para se exibir ou por malicia, ele fizera na inocência, a intenção dele era pura).
Com esses recortes da vida fico a imaginar a partir de que momento deixamos de achar que essa inocência, que essa leveza das atitudes nos faz mal.
Obviamente que não acho que homens formados devam sair por ai exibindo suas partes intimas quando o fecho de suas calças (mesmo que propositalmente) apresentarem problemas, mas, deveríamos ter a capacidade de sermos leves como as crianças.
Em conversas com os amigos, muitas vezes percebemos que todos nós parecemos, em algum momento, ter um imenso vazio dentro de nós. Preocupados que estamos em conquistar espaço, em sobreviver bem (com muitos bens materiais), estamos nos deixando levar pela superficialidade de tudo, ao ponto de termos muito e não termos nada. Quando nos deparamos longe dos holofotes, nós, nossos travesseiros e nossa consciência, nus das máscaras, percebemos que estamos meio perdidos.
São tantos os anseios, tantas as informações, tantas as necessidades que nos esquecemos de coisas básicas: rir, chorar, brincar, descansar, etc…
Quando vejo meus sobrinhos dentro de tanta alegria e despreocupação tenho nostalgia. Não de ser criança, pois, sei que a vida passa para todos, mas, sinto nostalgia da época em que a alegria era inerente a minha existência.
Não sou apegada a coisas materiais, acho que esse já é um caminho para a leveza. Quando vejo uma pessoa se matando para comprar algo caro, sinceramente sinto pena, pois, se Deus bater o martelinho, o bem conseguido com tanto sacrifício, não o acompanhará, portanto, não consigo ser tão leve a ponto de me deixar envolver por histórias do mundo imaginário, o que é ruim, esse mundo é tão cru, um pouco de fantasia (não vale aquelas, apesar de fazerem bem, rss) não faria mal.
Quem sabe se conseguíssemos nos transportar para a Terra do Nunca, às vezes, voltaríamos renovados.
A vida ta ficando esquisita.


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