Uma cena da novela A Vida da Gente representou
o que nossa sociedade pensa sobre alguns assuntos. Quando uma personagem disse
que Marcos, o personagem de Angelo Antonio, não trabalha e que existe um acordo
entre esse e a esposa, que ela trabalharia enquanto ele cuidava das filhas, a
outra personagem agiu com indignação, ficou estarrecida. A outra argumentou que
é a mesma situação que ela vivia: cuidava da casa enquanto o marido trabalhava,
mas, a outra achou estranho e ouviu a fala de que estava sendo preconceituosa.
Outra representação de novela que mostra
o machismo sendo alimentado por nós, mulheres, é o papel de Baltazar (Alexandre
Nero) em Fina Estampa. Em uma entrevista, esse, que diz se sentir mal com o
papel que faz, ele protagoniza cenas de violência doméstica, bate na esposa,
disse que as mulheres o assediam e ainda dizem que a Celeste ( Dira Paes)
merece apanhar por ser tão passiva, por aceitá-lo, ou simplesmente o apóiam.
Na casa de minha mãe, onde meus
sobrinhos são criados, as cenas que reforçam o machismo são exibidas todos os
dias, tanto que eles, aos cinco anos de idade, já tem definido nas “cabecinhas
de vento” o que são tarefas “femininas e masculinas”.
Como em nossa família sempre esteve
muito mais presente a figura da mulher (só tenho irmãs, muitas primas, muitas
tias) é normal muita maquiagem presente, muitos esmaltes, chapinhas, secador,
sapatos com saltos espalhados, vestidos, saias, brilhos labiais, batons, etc.
Por causa das cores, por causa da curiosidade inata nas crianças, meus
sobrinhos ficam doidos com tantos objetos, as cores das maquiagens os deixam
fascinados, assim como as cores dos esmaltes (que eles passam nas paredes, nos
brinquedos, que pintam as unhas do meu marido quando esse desprevenidamente cai
no sono na casa dos meus pais). Porém, esses objetos de desejo são proibidos
para eles, o que causa frustração, choros, discussões. Eles não podem “relar”
nas maquiagens, nos sapatos, nos esmaltes, só se minha mãe estiver bem longe
deles. Segundo ela, o contato com essas coisas os transformarão em homossexuais
(claro que ela não usa essa fala, mas, fica nas entrelinhas. Exemplo da fala
dela: deixa isso aí, você não é menina, quer uma saia? Afff, fico possessa com
esse preconceito, com essa fala usada para crianças tão pequenas, como se homossexualismo
pegasse, não rela que pega). Não adianta falar, ela foi criada assim e esses
conceitos são difíceis de saírem da cabeça dela, mas, ela está dando
continuidade a uma nova safra de machistas.
Em minha casa, meu marido lavando
louças, um deles o olha e diz: lavando louças? Isso é coisa de “molher”. Sim,
ele não vai nem lavar louças para a esposa que supostamente trabalhará, assim
como eu trabalho, porque os ensinaram que lavar louças é coisa de “molher”.
A maioria de nós, mulheres, reclamamos
do comportamento masculino, mas, assim como eles teimam em dizer que dirigimos
mal, sendo que são eles que nos ensinam a dirigir (olhem nas autoescolas a
proporção instrutor homem x mulher, eles são maioria absoluta) somos nós quem
os educamos. É a mulher mãe que cria homens machistas. Ainda impera a educação
exclusiva, seletista: isso é coisa de homem, isso é coisa de mulher. Bonecas
são brinquedos de mulheres, assim vamos criando a mulherzinha, caminhões,
brincadeiras de lutas são coisas de menino, assim vamos educando o macho.
Obviamente que não declaro aqui que
nossa sociedade vá aceitar meninos com esmaltes, isso é utopia (ta vendo, vocês
também são preconceituosos), obviamente que não veremos, em nossa sociedade,
meninos com saias nas escolas, nos parques, nas festas. Não defendo aqui a
revolução (todo mundo de saia e batom). Defendo o direito a uma educação
igualitária, o direito de deixar a criança ser criança (brincar, descobrir,
experimentar as cores, os cheiros, a mistura das cores, etc). Enquanto ficar
claro que menino luta, não lava louças, não ajuda em casa, pode deixar
brinquedos espalhados porque arrumar casa é coisa de “molher” vamos ter
machistas na sociedade, vamos apanhar de homens, afinal, os educamos para serem
mais agressivos. Somos nós, mulheres, que fabricamos os machistas.
Essa notícia, que posto o link, mostra o quanto a educação da mulher ainda é voltada para satisfazer o homem, a matéria é sobre um guia intitulado "O sexo islâmico", editada pelo "Clube de Mulheres
Obedientes", que recomenda às esposas a "submissão na cama a fim de
satisfazer o marido". ainda bem que é na Malásia, melhor ainda, o governo proibiu LEIAM AQUI "malasia-proibe-o-guia-do-sexo-islamico".
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