25 de outubro de 2011

EU, ROBÔ?


Toda vez que meus sobrinhos brincam na terra minha mãe faz uma pequena cena, dramática por sinal: depois ficam com tosse, isso é por causa da poeira, fora as manchinhas na pele, etc. Se é garganta é por causa do sorvete, daí vem mais um drama: depois sobra para eu levá-los no Posto de Saude, vocês sabem que as mães de vocês (se referindo diretamente aos netos) são folgadas, que, se não for eu correr vocês morrem, etc. a ladainha é grande, longa, diária. Fico me perguntando a partir de que momento minha mãe começou a ficar fresca e incorporar as frescuras da vida moderna. Criança brinca na terra desde que mundo é mundo. Eu sou filha dela e brinquei na terra, assim como minhas irmãs, mães dos rebentos. Posso garantir para vocês que nenhuma tem sérios problemas de saúde (a melhorzinha troca pneu de caminhão em movimento, mas, com saúde, rss), raramente ficamos doentes, nunca ficamos internadas por coisas graves (minha irmã mais nova e eu tiramos a vesícula, e eu fiz gastoplastia, mas, foram coisas isoladas, sem gravidade). Nunca tivemos que tomar medicamentos por sermos agitadas, calmas, tagarelas, ter problema de concentração em sala de aula. Então, porque, a mesma mãe que nos educou tão displicentemente hoje só falta pirar com um simples sorvete em dia de calor? Porque minha mãe está encarnando as “esquisitices” da modernidade: criança não pode se sujar que fica doente, não pode por a mão suja na boca que morre, não pode pular do sofá, não pode brincar na cama, gritar, dar piti, nada, tudo é motivo de risco ou TDHA (Transtorno de Deficit de Atenção e Hiperatividade) (meus sobrinhos tem cinco anos e ela da Maracujina para eles porque na concepção dela eles são muito agitados, para mim são apenas crianças, com sede de brincar, descobrir, curtir a vida saudável que Deus deu a eles. Não quero dizer com isso que criança não precisa de cuidados, não precisa ser amparada, e nem quero dizer que não existem crianças que realmente precisam de cuidados medicamentosos, quero apenas ressaltar que estamos exagerando.
 Muitas pessoas que conheço fazem terapia, coisas que nossas avós e mães, e pais e etc. nem faziam idéia do que era, e sobreviveram. Conheço pessoas “normais” assim como eu e você, que trabalha, estudou, que tem casa, familia e, por incrível que pareça tem orgulho em dizer que faz terapia, que usa “tarja preta” e, indicam o analista para os amigos como se indica uma loja de roupas. Porque estamos tão descontrolados? Porque há uma ansiedade em querer ser normal? Já não o somos ou não percebemos que somos? Porque precisamos o tempo todo provar que estamos buscando o equilíbrio? Que equilíbrio? O que é o equilíbrio? Conceitos inventados por terceiros, e, esses sabiam ou sabem o que é equilíbrio? O equilíbrio está em cápsulas inventadas por alguém que achava que isso te devolveria o equilíbrio, que equilíbrio?
A impressão que da é que estamos fugindo da singularidade. Todos vão para academias porque querem os corpos todos iguais, malhados. Todos tomam ração humana porque emagrece, todos trabalham para ter o emprego x porque da dinheiro, muito dinheiro, todos usam a calça da marca x porque fica bem no corpo, todos buscam incessantemente uma forma de ser notado, todos querem mostrar que estão muito bem. Falar que está mais ou menos, que você odeia academia, que está se lixando que hoje está mau humorado, que está meio depre, é pecado capital, te indicam logo a psicóloga da esquina porque isso pode ser grave. Garanto que não é. É apenas a indicação de que eu sou humana.
Humanos tem contato com terra, às vezes, humanos colocam mão suja na boca (se esquecem que pegou em um corrimão na rodoviária, rss, que manuseou dinheiro e lá vai, rss) humanos ficam gripados, ranhentos, ficam de mau humor, às vezes, se descontrolam, tomam sorvete mesmo quando gripados, principalmente se o humano é uma criança teimosa que não entende bulhufas de medicina e do processo inflamatório das glândulas, humanos choram, se desesperam, fazem besteiras ( muitas das quais trarão gostinho de arrependimento) humanos lutam, sofrem, quebram a cara etc.
Equilíbrio, nem sempre teremos, é humano, desejos inconfessáveis, teremos também, somos humanos, assim como dores, decepções.
O que estamos fazendo conosco?
 Eu Robô? Jamais, prefiro o sentir à dor do corte, fazer pocinho na lama.
 

Um comentário:

  1. minha avó tem 85 anos de idade, nunca foi numa academia, comia carne de porco armazenada na gordura (delicia), teve 9 filhos, nunca soube o que era Depre, rss, e está ótima de saude, lúcida, anda, as "as fresdoenças" da modernidade não a atingiram, decidi que quero ser como ela,,,rss

    ResponderExcluir

OPINEM.