Toda vez que
meus sobrinhos brincam na terra minha mãe faz uma pequena cena, dramática por
sinal: depois ficam com tosse, isso é por causa da poeira, fora as manchinhas
na pele, etc. Se é garganta é por causa do sorvete, daí vem mais um drama:
depois sobra para eu levá-los no Posto de Saude, vocês sabem que as mães de
vocês (se referindo diretamente aos netos) são folgadas, que, se não for eu
correr vocês morrem, etc. a ladainha é grande, longa, diária. Fico me
perguntando a partir de que momento minha mãe começou a ficar fresca e
incorporar as frescuras da vida moderna. Criança brinca na terra desde que
mundo é mundo. Eu sou filha dela e brinquei na terra, assim como minhas irmãs,
mães dos rebentos. Posso garantir para vocês que nenhuma tem sérios problemas
de saúde (a melhorzinha troca pneu de caminhão em movimento, mas, com saúde, rss),
raramente ficamos doentes, nunca ficamos internadas por coisas graves (minha
irmã mais nova e eu tiramos a vesícula, e eu fiz gastoplastia, mas, foram
coisas isoladas, sem gravidade). Nunca tivemos que tomar medicamentos por
sermos agitadas, calmas, tagarelas, ter problema de concentração em sala de
aula. Então, porque, a mesma mãe que nos educou tão displicentemente hoje só
falta pirar com um simples sorvete em dia de calor? Porque minha mãe está
encarnando as “esquisitices” da modernidade: criança não pode se sujar que fica
doente, não pode por a mão suja na boca que morre, não pode pular do sofá, não
pode brincar na cama, gritar, dar piti, nada, tudo é motivo de risco ou TDHA (Transtorno
de Deficit de Atenção e Hiperatividade) (meus sobrinhos tem cinco anos e ela da
Maracujina para eles porque na concepção dela eles são muito agitados, para mim
são apenas crianças, com sede de brincar, descobrir, curtir a vida saudável que
Deus deu a eles. Não quero dizer com isso que criança não precisa de cuidados,
não precisa ser amparada, e nem quero dizer que não existem crianças que
realmente precisam de cuidados medicamentosos, quero apenas ressaltar que
estamos exagerando.
Muitas pessoas
que conheço fazem terapia, coisas que nossas avós e mães, e pais e etc. nem
faziam idéia do que era, e sobreviveram. Conheço pessoas “normais” assim como
eu e você, que trabalha, estudou, que tem casa, familia e, por incrível que
pareça tem orgulho em dizer que faz terapia, que usa “tarja preta” e, indicam o
analista para os amigos como se indica uma loja de roupas. Porque estamos tão
descontrolados? Porque há uma ansiedade em querer ser normal? Já não o somos ou
não percebemos que somos? Porque precisamos o tempo todo provar que estamos
buscando o equilíbrio? Que equilíbrio? O que é o equilíbrio? Conceitos inventados
por terceiros, e, esses sabiam ou sabem o que é equilíbrio? O equilíbrio está
em cápsulas inventadas por alguém que achava que isso te devolveria o equilíbrio,
que equilíbrio?
A impressão
que da é que estamos fugindo da singularidade. Todos vão para academias porque
querem os corpos todos iguais, malhados. Todos tomam ração humana porque
emagrece, todos trabalham para ter o emprego x porque da dinheiro, muito
dinheiro, todos usam a calça da marca x porque fica bem no corpo, todos buscam
incessantemente uma forma de ser notado,
todos querem mostrar que estão muito bem. Falar que está mais ou menos, que
você odeia academia, que está se lixando que hoje está mau humorado, que está
meio depre, é pecado capital, te indicam logo a psicóloga da esquina porque
isso pode ser grave. Garanto que não é. É apenas a indicação de que eu sou
humana.
Humanos tem
contato com terra, às vezes, humanos colocam mão suja na boca (se esquecem que
pegou em um corrimão na rodoviária, rss, que manuseou dinheiro e lá vai, rss)
humanos ficam gripados, ranhentos, ficam de mau humor, às vezes, se
descontrolam, tomam sorvete mesmo quando gripados, principalmente se o humano é
uma criança teimosa que não entende bulhufas de medicina e do processo
inflamatório das glândulas, humanos choram, se desesperam, fazem besteiras (
muitas das quais trarão gostinho de arrependimento) humanos lutam, sofrem,
quebram a cara etc.
Equilíbrio,
nem sempre teremos, é humano, desejos inconfessáveis, teremos também, somos
humanos, assim como dores, decepções.
O que estamos
fazendo conosco?
Eu Robô? Jamais,
prefiro o sentir à dor do corte, fazer pocinho na lama.


minha avó tem 85 anos de idade, nunca foi numa academia, comia carne de porco armazenada na gordura (delicia), teve 9 filhos, nunca soube o que era Depre, rss, e está ótima de saude, lúcida, anda, as "as fresdoenças" da modernidade não a atingiram, decidi que quero ser como ela,,,rss
ResponderExcluir