23 de outubro de 2011

"ANJOS"



Nos dias em que estive internada antes e depois do processo cirúrgico pelo qual passei (infelizmente me internaram em uma sexta-feira para fazer a cirurgia na segunda-feira, o que me deixou cheia de saudades de casa), tive tempo para analisar algumas situações.
Dentro de uma enfermaria, com mais quatro pacientes diferentes, com quadro clinico e comportamentos diferentes, percebe-se nitidamente a complexidade do ser humano, salta aos olhos a profissão dos enfermeiros.
Com realidades e comportamentos diferentes, os pacientes intercalam dos fáceis de lidar aos dores de dentes (aquela pessoa intragável, que faz o possível para ser desagradável) e cabe aos profissionais da enfermagem lidar diretamente com essas pessoas. Dão banho (do banho normalzinho ao banho na cama) ouvem desaforos, cuidam da medicação, obviamente, mas, acima de tudo cuidam de pessoas. Na noite em que passei na UTI (logo após a cirurgia quase todos os pacientes são levados para passar um dia na Unidade para acompanharem de perto a recuperação do paciente) tive a sorte de ser cuidada por profissionais dedicados, delicados, que fazem o que está além da profissão, cuidam com carinho, o que demonstra vocação, amor pelo que fazem.
Confesso que não tive inveja daqueles profissionais no sentido profissional, porém, confesso minha admiração pela paciência, pela profissão que escolheram, aliás, sem esses profissionais minha estadia no hospital seria penosa, assim como de todos os pacientes que lá estão.
Minha tia escolheu fazer um curso de Cuidadora de Idosos, fomos contra. Tentamos de várias formas fazê-la mudar de idéia, os argumentos eram de que é algo difícil de fazer, difícil de agüentar e que ela deveria escolher algo mais fácil. Minha tia já cuida de uma pessoa portadora de necessidades especiais e adora o que faz, mas, na nossa mente preconceituosa, materialista, ela deveria procurar algo “melhor” para si. Após minha passagem pelo hospital estive pensando na profissão que minha tia está tentando abraçar. O que seria de nós, humanos, se não fosse à vocação que outros seres humanos possuem de cuidar de outros seres humanos?
Somos arrogantes, pretensiosos, nojentos. Enquanto não precisamos de ajuda temos a mania de pensarmos invencíveis, acima de qualquer coisa. Numa cama de hospital, dentro de um hospital, percebemos o quão vulneráveis somos. Dependendo do caso vomitamos perto de outras pessoas, dependemos de outras pessoas para tomarmos banho, escovarmos dentes, evacuamos (palavra chique para o significado, mas, hoje, estou clean) perto de outras pessoas, às vezes, dependemos dessas para nos higienizar a bunda (não fiquem vermelhos, RSS) , ir e vir. Dentro de um hospital perdemos um pouco a identidade, a individualidade.
Dentro disso eu me pergunto o que seria de nós, quando precisamos dessas intervenções, sem esses profissionais “vacacionados”? O que seria de nós se não houvesse pessoas propensas a ter a vocação do cuidar, do amar, do dedicar-se aos outros? O que seria dos nossos idosos se não houvesse pessoas como minha tia? Eu digo nós porque vocês sabem que qualquer pessoa está sujeita a precisar de ajuda um dia ou outro.
Sempre nos deparamos com falas do tipo: não tenho saco para isso, não tenho estomago para isso, Deus me livre de uma sala de aula, quem agüenta os “Capetas” que são esses alunos (seus filhos, sobrinhos, netos, etc. estão incluídos nesse pacote), Deus me livre disso e daquilo. Imagina se todos pensassem assim, que é difícil zelar, cuidar, dedicar-se a outro ser humano? Não teríamos médicos, professores, enfermeiros, cuidadores de idosos, etc. O que seria de nossas vidas sem essas pessoas que acima do dinheiro (não é por dinheiro que alguém decide ser professor, enfermeiro, médico, cuidador de idoso, quem pode pagar medicina poderia pagar engenharia, os salários são equivalentes) escolhem profissões que salvam vidas, que acolhem vidas, que melhoram vidas?
Reflitamos que faz bem para o orgulho, não sabemos do dia de amanhã.


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