Nos dias em que estive internada
antes e depois do processo cirúrgico pelo qual passei (infelizmente me
internaram em uma sexta-feira para fazer a cirurgia na segunda-feira, o que me
deixou cheia de saudades de casa), tive tempo para analisar algumas situações.
Dentro de uma enfermaria, com
mais quatro pacientes diferentes, com quadro clinico e comportamentos
diferentes, percebe-se nitidamente a complexidade do ser humano, salta aos
olhos a profissão dos enfermeiros.
Com realidades e comportamentos
diferentes, os pacientes intercalam dos fáceis de lidar aos dores de dentes
(aquela pessoa intragável, que faz o possível para ser desagradável) e cabe aos
profissionais da enfermagem lidar diretamente com essas pessoas. Dão banho (do
banho normalzinho ao banho na cama) ouvem desaforos, cuidam da medicação,
obviamente, mas, acima de tudo cuidam de pessoas. Na noite em que passei na UTI
(logo após a cirurgia quase todos os pacientes são levados para passar um dia
na Unidade para acompanharem de perto a recuperação do paciente) tive a sorte
de ser cuidada por profissionais dedicados, delicados, que fazem o que está
além da profissão, cuidam com carinho, o que demonstra vocação, amor pelo que
fazem.
Confesso que não tive inveja
daqueles profissionais no sentido profissional, porém, confesso minha admiração
pela paciência, pela profissão que escolheram, aliás, sem esses profissionais
minha estadia no hospital seria penosa, assim como de todos os pacientes que lá
estão.
Minha tia escolheu fazer um curso
de Cuidadora de Idosos, fomos contra. Tentamos de várias formas fazê-la mudar
de idéia, os argumentos eram de que é algo difícil de fazer, difícil de
agüentar e que ela deveria escolher algo mais fácil. Minha tia já cuida de uma
pessoa portadora de necessidades especiais e adora o que faz, mas, na nossa
mente preconceituosa, materialista, ela deveria procurar algo “melhor” para si.
Após minha passagem pelo hospital estive pensando na profissão que minha tia
está tentando abraçar. O que seria de nós, humanos, se não fosse à vocação que
outros seres humanos possuem de cuidar de outros seres humanos?
Somos arrogantes, pretensiosos,
nojentos. Enquanto não precisamos de ajuda temos a mania de pensarmos
invencíveis, acima de qualquer coisa. Numa cama de hospital, dentro de um
hospital, percebemos o quão vulneráveis somos. Dependendo do caso vomitamos
perto de outras pessoas, dependemos de outras pessoas para tomarmos banho,
escovarmos dentes, evacuamos (palavra chique para o significado, mas, hoje,
estou clean) perto de outras pessoas, às vezes, dependemos dessas para nos
higienizar a bunda (não fiquem vermelhos, RSS) , ir e vir. Dentro de um
hospital perdemos um pouco a identidade, a individualidade.
Dentro disso eu me pergunto o que
seria de nós, quando precisamos dessas intervenções, sem esses profissionais “vacacionados”?
O que seria de nós se não houvesse pessoas propensas a ter a vocação do cuidar,
do amar, do dedicar-se aos outros? O que seria dos nossos idosos se não
houvesse pessoas como minha tia? Eu digo nós porque vocês sabem que qualquer
pessoa está sujeita a precisar de ajuda um dia ou outro.
Sempre nos deparamos com falas do
tipo: não tenho saco para isso, não tenho estomago para isso, Deus me livre de
uma sala de aula, quem agüenta os “Capetas” que são esses alunos (seus filhos,
sobrinhos, netos, etc. estão incluídos nesse pacote), Deus me livre disso e
daquilo. Imagina se todos pensassem assim, que é difícil zelar, cuidar,
dedicar-se a outro ser humano? Não teríamos médicos, professores, enfermeiros,
cuidadores de idosos, etc. O que seria de nossas vidas sem essas pessoas que
acima do dinheiro (não é por dinheiro que alguém decide ser professor, enfermeiro,
médico, cuidador de idoso, quem pode pagar medicina poderia pagar engenharia,
os salários são equivalentes) escolhem profissões que salvam vidas, que acolhem
vidas, que melhoram vidas?
Reflitamos que faz bem para o orgulho, não sabemos do dia de amanhã.
Reflitamos que faz bem para o orgulho, não sabemos do dia de amanhã.
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