
Uma mãe, de mais ou menos vinte e três anos, com um menino de uns oito anos, descendo a rua onde moro, vinham da escola, travavam o seguinte diálogo:
Mãe: eu sei quem é, é uma gordona, dentuça, que tem uma barriga enorme.
Filho: hãa??
Mãe: a pessoa que você fala, eu sei quem é, é uma bem gorda. E continua: eu sou gorda, mas, eu tenho sorte, eu engordo por inteira ( nota da autora, a moça em questão tem mais ou menos 1, 55 de altura e deve pesar uns oitenta quilos, anda com a pernas encontradas em cima e aberta em baixo, o que é comum entre pessoas que estão acima do peso), agora tem gente que engorda que fica com aquelas barrigonas enormes, parece grávida.
Filho: ahh, mas eu acho que essa pessoa está grávida.
Mãe (não se dá por vencida e continua)blaá, blá, bláaaaaa.
Volta para a autora. Fiquei indignada com a fala da mulher. Fiquei com pena da criança. Também fiquei com pena da mulher (por sua cegueira diante do próprio físico, por causa do preconceito e por causa da pequenez de sua pessoa). Isso nada tem a ver por eu ser gorda. Tenho consciência de meu valor e raramente me deixo abalar com esse tipo de comentário, principalmente vindo de outra pessoa “irmã”, minha indignação se deu pela postura da mãe. Quem deveria educar a criança para viver saudavelmente em sociedade, aceitando as diferenças, ajuda a propagar o ódio aos seus semelhantes.
Quantas crianças não devem ouvir dentro de casa os próprios pais tecerem comentários maldosos sobre os pobres, os negros, os nordestinos, os gays, os gordos, os magros, os deficientes, etc?
Esses pais chegarão indignados um dia em uma delegacia, em um Conselho Tutelar porque seus filhos agrediram pessoas, atearam fogo em indios, mataram, arrancaram pedaço de orelha de pessoas que na cabeça desses deveriam seguir esse código de conduta da intolerância ensinado dentro de casa.
Você ensina para seu filho que ser gordo é defeito (mesmo quando também és gordo e, portanto também “defeituoso”), ensina seu filho a odiar homossexuais e depois tem a cara de pau de aparecer na mídia e dizer que não sabe por que seu filho se transformou em um monstro. Durante a revolta social você engrossa o coro e diz não saber onde errastes, dentro de casa você aplaude o agressor por ser uma cópia fiel de você, o monstro “matriz”.
Uma famosa frase do filósofo/estudioso Russeau: “o homem nasce bom e a sociedade o corrompe” nunca fez tanto sentido como na nossa atual sociedade. Todos os dias nossas crianças são alimentadas com contradições que as vão transformando em pessoas corruptas, ladras, pessoas preconceituosas, dissimuladas, etc.
Que exemplo de vida você está oferecendo para seu filho?
Fica a questão: Você o está educando ou o está corrompendo como nossa protagonista acima citada?