Hoje acordei com desejo de compartilhar uma reflexão com vocês, mas, hoje o papo é outro, a conversa é séria, seríssima.
Vejo com muita frequência a mídia instalar um sistema de alerta nas pessoas sobre a questão violência x adolescentes.
Obviamente que, sendo eu conselheira tutelar você já vai se vestir de preconceito, arrogância e cinismo e dizer que, estou puxando a sardinha pois, eu defendo “bandidos”. Eu não posso impedi-lo de pensar, de se expressar, mas, eu tenho o direito de expor livremente o que penso, e, como pessoa de pensamento livre queria compartilhar apenas algumas dúvidas com vocês.
Vocês acreditam mesmo que o problema da violência no nosso país são os adolescentes? Se sim, a quem você credita aquela fase de violência em que morreram inúmeros policiais no Estado de São Paulo e aquela onda de incêndios em ônibus no Estado de Santa Catarina? Quantas pessoas foram presas em São Paulo naquela época, época em que pessoas eram executadas em grande número? Qual foi o posicionamento de nosso governador naquela situação?
Se não fosse ano de fortalecimento político, em que os partidos estão querendo se mostrar, o nosso governador se posicionaria a favor da maioridade penal, ou, ele está usando isso para chamar à atenção para sobre si, uma vez que, ele sabe que 90% da população iria abraçá-lo por essa insana decisão? Não seria desse, do governador, a responsabilidade de criar políticas públicas abrangentes para incluírem nossas crianças, futuros adolescentes, na sociedade (escolas de qualidade, saude, esporte, lazer, cultura, etc)? Cuidando das crianças, educando-as, investindo em educação, em profissionais (professores) que
trabalhassem com mudanças de paradigmas não teríamos, obviamente, adolescentes com maiores perspectivas de vida, e, sendo assim, não teríamos uma redução na participação desses em crimes?
Você pode até fazer a pergunta: quanto custa investir em uma criança (educação de qualidade, por exemplo)? Eu pergunto-lhes: quanto custa não investir? Quanto nos custa um preso? Se você resolver fazer as contas verá que é muito mais caro manter um adolescente/adulto preso que em uma escola, onde esses teriam perspectiva de igualdade.
Agora voltando a você, exclusivamente para você. Quando você defende a pena de morte no Brasil, quando você defende a questão da maioridade penal, cadeira elétrica, enforcamento, colocar os presos em uma parede e sair atirando, você está incluindo possíveis parentes ou você acredita ser tão bom, tão blindado que ninguém de sua família (irmãos, filhos, primos, tios, etc) estaria um dia do outro lado da justiça? Você defenderia a mudança na Lei se o seu filho estivesse do outro lado do sistema ou, os seus “lindos conceitos” são referentes apenas quando o outro é negro, filho de pobre, favelado, marginalizado (deixado à margem, sem direito a educação, saude, família, respeito, amor, afeto)?
Eu compreendo a revolta, a dor de quem perde alguém querido por mãos de criminosos, adolescentes ou não, e concordo que deve haver punição, mas, até nesse ponto creio que deveria ter punição de qualidade. Não acho que ao diminuir a idade para se pagar por um crime, sem uma política séria de recuperação do infrator, haveria mudanças, apenas teremos um sistema carcerário atravancado e políticos se beneficiando da dor alheia para se autopromoverem e pessoas cada vez mais jovens se “graduando” no crime.
Há um sistema imoral de violência. Pessoas responsáveis pela segurança pública (delegados, policiais, etc) estão ficando ricas com a “plantação” da violência. Eles montam empresas de segurança privada, plantam assaltos, vários, em um determinado lugar e depois, ao terem o cidadão apavorado, fragilizado com o aumento da violência em seu bairro, condomínio, etc conseguem vender facilmente seus “lícitos” serviços. Depois o problema da violência no Brasil é o adolescente. Nesses casos, quem realmente é punido, quantas dessas quadrilhas vocês veem sendo desmontadas e seus donos punidos?
Eu ouvi uma conselheira, ontem, em um seminário defender que as Leis precisam se adequar, pois, os adolescentes de hoje, até por uma questão biológica, estão mais inteligentes, mais espertos (deixando claro que ela defende a redução da maioridade, sendo incoerente, antiética, com o trabalho que exerce). Se partirmos do pressuposto que deveremos diminuir a maioridade penal por os adolescentes serem cada vez mais espertos, portanto, donos de si, logo teremos crianças na cadeia. Frisando: essas crianças tem que ser filhas dos outros, não minhas, as minhas são perfeitas, as Leis são para meus vizinhos.
Quando defendemos uma política de atendimento séria e justa para nossas crianças e adolescentes, o que vocês deveriam fazer também, sendo pagadores de impostos e pertencentes a uma sociedade que amanhã será cuidada por essas crianças e adolescentes, as quais negligenciamos, só defendemos o direito de todo cidadão, que é de ter vida digna, respeito, amor, um lar, um espaço na sociedade para se desenvolverem com dignidade, etc.
A criança é formada por adultos, portanto, se essas se tornarem criminosas quem realmente é culpado?
Pensemos: ao seguirmos uma "manada" de cabeça baixa, sem olhar para os lados, sem questionar, sem refletir, não corremos o risco de estarmos seguindo para um abismo? Devemos ao menos tentar fugir do senso comum.
Que punição você defenderia para um para um filho seu pego em ato infracional? Defenderias a pena de morte para um sangue do teu sangue? Você usaria para os seus o mesmo peso e a mesma medida que você usa para julgar os filhos dos outros?
Posicionamento da CNBB é bem parecido com o que penso: "Precisa abordar o tema de maneira mais ampla, identificar suas causas, que se encontram sobretudo na desagregação familiar, na falta de oportunidades para esses adolescentes, na insuficiência de políticas públicas por parte do Estado, na banalização da vida, no narcotráfico que recruta esses jovens e na falta de segurança. Reduzir a maioridade penal é simplificar o problema que provavelmente não será resolvido", Dom Raymundo Damasceno (MATÉRIA COMPLETA AQUI).
Imagens do Google (dedicado a S.C).
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