Ela
passara por mim mais ou menos ao meio dia de um dia quente, de sol escaldante. Uma
senhorinha dentro de seus sessenta anos, talvez mais, talvez menos.
Dentro
de seu trajeto, que fazia em silêncio, essa rodava entre seus dedos um colar de
imitação bem barata de pérolas. Trajava uma saia preta, com algumas pregas que
não posso caracterizar de plissado, uma saia estranha, simples, que ela
deselegantemente posicionara na “boca do estômago” como diz minha avó. Uma blusa
branca, já não tão branca e já gasta certamente por inúmeras lavagens, completava
o traje que tinha ainda, como calçado em seus pés, uma chinelinha, também muito
gastas.
Ela
andava dentro de sua humanidade e, às vezes, até sorria, não sei se por
insanidade, por simplicidade, ou se ria da vida, que dera a ela tão pouco mas,
talvez o necessário, mas, também poderia ser de vaidade, sim, ela parecia
envaidecida com aquele pouco, com aquele traje que, dentro de sua condição,
mesmo com tão pouco, a tornava feminina.
Essa
cena entrou em minha vida há uns vinte dias e até o momento ela fica ali, em
mim, suspensa, delicada, para me mostrar o quão feliz algumas pessoas parecem ser
apenas pelo fato de existirem. Ela talvez estivesse rindo de nós, que nos “matamos”
aos poucos todos os dias para ter, sendo que para ser é necessário tão pouco.
A
cena me pega um pouco por dia a imaginar quem aquela senhora é, eu não ousaria
olha-la demais, inquiri-la com meus questionamentos, com minhas dúvidas existenciais,
aquele momento parecia tão dela que qualquer gesto meu poderia tira-la de si,
então, apenas a observei, andando displicentemente rodando seu lindo colar
entre os dedos (para ela o colar, dentro de sua “significância” tão particular,
era lindo, assim como para alguns pode ser lindo seu carro novo, seu relógio
Rolex).
Dentro
dessa cena cabe outra: a da tragédia de Santa Maria, com tantas vidas ceifadas
precocemente, com tanta dor dentro de um espaço tão mensurável. Essas tragédias
sempre me trazem reflexões sobre a vida, é inevitável.
Sempre
me traz a lembrança do quão mesquinhos temos sido. Dificilmente despendemos
tempo para coisas sutis, delicadas, como andar pelas ruas rodando entre nossos
dedos um simples colar, rindo à toa, brincando com a vida. Como somos ocupados
em construir, em consumir. Pouco paramos para prestar atenção na pessoa que
está ao nosso lado, ela é insignificante dentro da minha tão pequena grande
vida, o tempo é dinheiro portanto, devo aproveitá-lo ao máximo, em meu próprio proveito,
vai que não da tempo de? De o que? O que é o tempo? Quem tem controle sobre
ele? Quem sabe quanto tempo ainda te resta?
Tenho
pessoas a minha volta que me são muito importantes, pelo que representam, pelo que me
ajudam a ser como ser humano, mas, todas as pessoas, independente da posição que ocupam em minha vida me são importantes, exatamente por isso: por me ajudarem a ser, ou não, um ser humano melhor, ou não (entenderam né, rss). A senhorinha,
mesmo dentro de seu mundo sem glamour me mostrou que eu estou certa, que a
sutileza, a delicadeza, são as únicas coisas que nos preenchem a alma, as
outras, são efemeridades que preenchem o EGO (ficou bonita essa frase né, rss, olha o EGO: eu sou demais, rss).
A
vida é curta para ficarmos presos apenas no construir, quero o calor dos abraços, a beleza
do sol, a luminosidade de um sorriso, a sonoridade das musicas, das gotas de
chuva caindo sobre o telhado, a ingenuidade das crianças, a longevidade do
agora, pois, o amanhã, esse é incontrolável.
(observação: imagens do Google).
(observação: imagens do Google).
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