3 de fevereiro de 2013

O SABOR DA SUTILEZA.


Ela passara por mim mais ou menos ao meio dia de um dia quente, de sol escaldante. Uma senhorinha dentro de seus sessenta anos, talvez mais, talvez menos.
Dentro de seu trajeto, que fazia em silêncio, essa rodava entre seus dedos um colar de imitação bem barata de pérolas. Trajava uma saia preta, com algumas pregas que não posso caracterizar de plissado, uma saia estranha, simples, que ela deselegantemente posicionara na “boca do estômago” como diz minha avó. Uma blusa branca, já não tão branca e já gasta certamente por inúmeras lavagens, completava o traje que tinha ainda, como calçado em seus pés, uma chinelinha, também muito gastas.
Ela andava dentro de sua humanidade e, às vezes, até sorria, não sei se por insanidade, por simplicidade, ou se ria da vida, que dera a ela tão pouco mas, talvez o necessário, mas, também poderia ser de vaidade, sim, ela parecia envaidecida com aquele pouco, com aquele traje que, dentro de sua condição, mesmo com tão pouco, a tornava feminina.
Essa cena entrou em minha vida há uns vinte dias e até o momento ela fica ali, em mim, suspensa, delicada, para me mostrar o quão feliz algumas pessoas parecem ser apenas pelo fato de existirem. Ela talvez estivesse rindo de nós, que nos “matamos” aos poucos todos os dias para ter, sendo que para ser é necessário tão pouco.
A cena me pega um pouco por dia a imaginar quem aquela senhora é, eu não ousaria olha-la demais, inquiri-la com meus questionamentos, com minhas dúvidas existenciais, aquele momento parecia tão dela que qualquer gesto meu poderia tira-la de si, então, apenas a observei, andando displicentemente rodando seu lindo colar entre os dedos (para ela o colar, dentro de sua “significância” tão particular, era lindo, assim como para alguns pode ser lindo seu carro novo, seu relógio Rolex).
Dentro dessa cena cabe outra: a da tragédia de Santa Maria, com tantas vidas ceifadas precocemente, com tanta dor dentro de um espaço tão mensurável. Essas tragédias sempre me trazem reflexões sobre a vida, é inevitável.
Sempre me traz a lembrança do quão mesquinhos temos sido. Dificilmente despendemos tempo para coisas sutis, delicadas, como andar pelas ruas rodando entre nossos dedos um simples colar, rindo à toa, brincando com a vida. Como somos ocupados em construir, em consumir. Pouco paramos para prestar atenção na pessoa que está ao nosso lado, ela é insignificante dentro da minha tão pequena grande vida, o tempo é dinheiro portanto, devo aproveitá-lo ao máximo, em meu próprio proveito, vai que não da tempo de? De o que? O que é o tempo? Quem tem controle sobre ele? Quem sabe quanto tempo ainda te resta?
Tenho pessoas a minha volta que me são muito importantes, pelo que representam, pelo que me ajudam a ser como ser humano, mas, todas as pessoas, independente da posição que ocupam em minha vida me são importantes, exatamente por isso: por me ajudarem a ser, ou não, um ser humano melhor, ou não (entenderam né, rss). A senhorinha, mesmo dentro de seu mundo sem glamour me mostrou que eu estou certa, que a sutileza, a delicadeza, são as únicas coisas que nos preenchem a alma, as outras, são efemeridades que preenchem o EGO (ficou bonita essa frase né, rss, olha o EGO: eu sou demais, rss).
A vida é curta para ficarmos presos apenas no construir, quero o calor dos abraços, a beleza do sol, a luminosidade de um sorriso, a sonoridade das musicas, das gotas de chuva caindo sobre o telhado, a ingenuidade das crianças, a longevidade do agora, pois, o amanhã, esse é incontrolável.

(observação: imagens do Google).

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