6 de outubro de 2012

BARIÁTRICA FAZ ANIVERSÁRIO.



No próximo dia dez de Outubro minha cirurgia completará um ano (vixi, como passa rápido). Para mim é como se tivesse sido ontem (preparação, internação, medo, choro, corte, UTI, soros, medicamentos, refeições líquidas feitas em copinhos de café (água de coco, gatorade, gelatina, sucos, caldos de sopa), curativos, cuidados excessivos da minha mãe, põe meia, tira meia, faixa compressora, dreno, caminhar para evitar trombose, etc).
Após o primeiro mês de cirurgia percebi que havia eliminado menos quilos que a maioria das pessoas que passaram pelo mesmo processo junto comigo. A explicação que tive é que o processo depende do tanto de gordura que você tem acumulada, musculatura, ou seja, cada um é cada um, partindo desse ponto de vista eu estava bem na fita (como diria os “antigos”, RSS, pois, sinal que eu tinha menos gordura para eliminar e mais massa).
imagem do google.
Hoje, um ano após a cirurgia e com apenas trinta e dois quilos a menos (eu sei que muitos acharão 32 quilos a menos uma coisa muito significativa, e é, eu sai da calça 54, 56 para 48, 46, mas, pensando que eu preciso chegar aos 75 kg e ainda tenho quase 30 kg pela frente e que a fase mais fácil para eliminar peso ficou lá atrás, é uma lástima) eu penso que os riscos foram altos demais para o resultado obtido (agora a equipe médica passou a concordar comigo, que eu perdi pouco peso para o tipo de cirurgia feita, dentro do prazo que já passou).
Sei que falarão que eu preciso fazer minha parte e concordo e digo: eu faço. Mesmo fazendo caminhadas cinco dias na semana, uma média de doze quilômetros por dia, eu não estou eliminando nada, quando se compara o tanto de gordura, açúcar, comida que eu consigo comer no dia e o tanto que eu volto na semana (vômito, para ser mais clara, rsss), vocês dirão que eu sou uma exceção, que algo está errado, rss).
Decepções a parte tem a parte boa. É óbvio que eu fico feliz com os resultados que obtive até hoje. É óbvio que é bom comprar uma roupa e essa ficar melhor no seu corpo, mas, muita coisa eu posso garantir a vocês: é uma ilusão. Continuo a mesma pessoa que tinha 30 e poucos quilos a mais, ou melhor, agora estou pior, estou mais triste (primeiro porque dizem que as mudanças bruscas na alimentação mexem com os neurotransmissores, serotonina etc, mas, acho que é a questão da expectativa). 
Quando se está no processo pré-cirúrgico há uma tendência em pensar que sua vida mudará da água para o vinho após a cirurgia: você ficará melhor fisicamente, mais atraente, trocará todas às roupas antigas/enormes por roupas novas, que você terá mais disposição, que será mais desejada e aceita na sociedade etc, tudo balela, você continua a mesma de sempre, até pior, pois, não poderá descontar suas neuras na pizza (aquela com muita mussarela, rsss) no X bacon, e aí está o perigo, você internaliza a tristeza e a frustração e os problemas começam a aparecer. Ando meio desligada, sem animo, pois, os problemas relacionados à autoestima, relacionamento, conflitos, não sumiram com a cirurgia, e, com eles presentes, sem ter uma válvula de escape, estou muito mais introspectiva, solitária, triste (estou a chorar muito, com medo excessivo de perder as pessoas que amo, sem vontade de continuar a viver (meus sobrinhos são minha única fonte de inspiração), estou completamente sem perspectivas, saio de casa na marra, porque, às vezes, me obrigo a sair, pois, se dependesse de mim ficaria no quarto o tempo todo e tudo isso começou após a cirurgia).
Eu sou uma pessoa muito consciente de mim e estou ciente que esses problemas precisam começar a ser investigado, só os citei para vocês perceberem que o milagre por um corpo bonito, desejável (se alguma mulher disser que fez/fará essa cirurgia por causa da saúde desconfiem, isso é raro, 98% fazem por causa da estética, da raiva que é ser gordo nessa sociedade hipócrita, que vê a gordura com desprezo, com nojo, com repulsa) não existe, que todo ato tem consequência e nem tudo são flores (no caso da cirurgia há o risco de complicações, engasgamento, ruptura dos grampos, o que pode ser fatal, o incomodo para se alimentar quando comes coisas mais fibrosas como carnes, e, esses incômodos te acompanharão ao longo da vida etc).
Se for necessário fazer um balanço de tudo diria que hoje, após passar pelo que passei eu acho que ainda faria a cirurgia, pois, como já citei anteriormente, para ser gordo na nossa sociedade você precisa ser blindado emocionalmente, pois, o desprezo existe, a desvalorização pessoal existe (você pode ser inteligente: meu caso, rsss; estudar, fazer uma graduação, pós graduação, ter curso de idiomas (eu falo inglês) ser agradável, bem resolvida sexualmente (então né, rsss) ter boa índole, bom caráter, ser amiga, ser pessoa solidária, corajosa, honesta, bonita ( de rosto, como fazem questão de frisar), bom astral, ter bom papo, ser culta, mas, se você for gorda você não é digna de respeito, de desejos, de ser desejada) e acho que para nós, mulheres, essa blindagem é muito mais difícil de se conseguir, somos muito mais emoção, o que dificulta nossa aceitação quando o problema é algo que afeta diretamente nosso emocional. Diria que faria tudo de novo, apesar de ter uma boa estrutura familiar, tem grandes amigas, ter pessoas que me aceitam como sou, enfim, apesar de saber que tudo é ilusão, que independente do peso eu vou continuar sendo humana e morrerei um dia como o magro, o baixo, o deficiente (queria que as pessoas pensassem nisso ao avaliarem alguém pelo seu peso: que independente disso você é pessoa/humano e que sente que chora, que ama, que tem vontade de transar, que sente desejos, tem dor, tem fome (apesar de acharem que só comemos)). Não conseguirei mudar a humanidade.
Enfim, na medida do possível estou bem após um ano do processo cirúrgico. Continuo com neuras antigas, adquiri neuras novas, tem dias que tenho muita fome (outra ilusão da cirurgia: você continuará tendo fome e continuará tendo que fazer dietas, o que emagrece não é a cirurgia, ela só é uma ferramenta para te ajudar a comer menos, mas, você continuará a ter que usar os horríveis adoçantes, que duvido que médicos e nutricionistas usem no café deles quando estão dentro dos seus lares, continuará tendo que consumir produtos “daitis, laitis”, integrais, desnatados, como se fossem as melhores coisas do mundo).
Tive sorte em não ter complicações graves, felizmente.
Mando notícias.

3 comentários:

  1. olá, sou a Mara e estou prestes a fazer a bariátrica e vc até aqui foi a unica que fala realmente o que eu quero saber no pós cirúrgico, quero estar consciente que depois nao será um mar de rosas, continue postando seu dia a dia, vc irá ajudar muita gente que precisa de informação, e olha nao fica triste por nao ter perdido muito peso e por nao poder comer tudo que tem vontade,isso realmente nao dá mais prazer que vestir um numero menor, ou do que chegar numa loja e a roupa mais bonita que tem lá caber em vc,pensa que diminuiu o risco de vc morrer com uma série de doenças de obesos, pense nisso...

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  3. Mara, agradeço o carinho e fico feliz em poder ajudar de alguma forma. Quando me preparava p/ cirurgia eu procurava muita informação sobre o pós e realmente tem pouca coisa, se você quiser mais detalhes, rss, quiser compartilhar algum medo, alguma dúvida, estou a disposição, vc tem razão qto a questão da saude, eu preciso agradecer que são mais de 30 kg a menos, não a mais, estaria passando dos 168 e acho que seria bem complicado, abraços, boa sorte aí na luta (ahh, se vc tiver pessoas da família que te apoiem será melhor ainda, vão colaborar com sua alimentação, eu tive um batalhão de gente preparando minhas refeições, buscando o que eu podia comer, saindo de perto com o que eu nao podia comer, rsss)

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