20 de julho de 2011

"QUERO SER SINGULAR"

Sou formada em letras, amo as letras, a literatura a comunicação em geral, gêneros, figuras de linguagem, mas, minha paixão é o singular. O plural tem sua importância, porém, o singular me traduz.
Porque gosto do singular? Porque no singular eu sou, eu ando, eu falo, eu escuto, eu grito, eu reclamo, eu amo, eu beijo, eu transo (pensaram que eu me esqueceria desse item né? Jamais), eu viajo, eu trabalho e por aí vai. Egoísmo? Talvez.
Vamos para uma explicação mais ampla. Li um artigo que citava, entre outros pontos, a luta do ser humano para se destacar como individuo.
Antes, seguíamos as profissões de nossos pais se nascêssemos homens, se nascêssemos mulheres estávamos condenadas, assim como estiveram nossas mães, a casamentos arranjados, após a “interessante” rotina de aprender a bordar, lavar, passar (não ouse pensar que nos ensinavam a manter nosso príncipe encantado por meio do sexo. Fio dental, camisolas transparentes, acessórios, pornografia, masturbação, orgasmos, caras e bocas e gemidos eram palavras e objetos que provavelmente levaria qualquer mulher “bem intencionada” para o inferno ou para debaixo da chibata, com marcas que nos fariam lembrar para sempre o perigo da maçã) aprender piano e língua francesa (se você tivesse a chance de nascer em uma família abastada) e por aí vai (esses itens não tinham no artigo, rss).
De repente, conseguimos, aos poucos, a nos libertar, porém, o condicionamento está nos regressando às amarras.
Se antes as amarras eram a família, como exemplifiquei acima, que exerciam um poder enorme sobre nossa vida social e cultural, hoje, as amarras são silenciosas, devastadoras, destruidoras. Hoje, há uma sugestão implícita e explicita de que somos uma massa igual, homogênea, inseparável, apesar de lutarmos desesperadamente para sermos únicos (buscamos essa “unicidade” na yoga, nas igrejas, nos prozacs da vida, e, continuamos perdidamente perdidos nas massas).
Todos ouvem as mesmas musicas. Se eu disser que funk é pornográfico, cultura inútil, você, mesmo adorando ser cachorra dirá que eu tenho razão, afinal você precisa mostrar que é culta, que odeia cultura de massa e que coisas que vem do lado “fubá” da sociedade é horrendo.
Somos únicos, porém, ninguém assume publicamente que come pão com mortadela, hoje é trash (significa lixo, porém, no Brasil, usamos como singular de coisa feia, estranha, fora de moda, ou lixo no sentido de ser algo sem valor) falar que você odeia salada, que você não consome cereais, que kinoa (quinoa) é foda, que você odeia ração humana, que você adora pão francês com muita margarina, que você come pizza amanhecida com café, que você odeia academia, que alface faz bem para a saúde e você sabe disso, mas, que o que você gosta mesmo é de um bom pedaço de picanha assada com aquela camada suculenta de gordura com farinha de mandioca temperada.
IMAGEM DO TIO GOOGLE.
 Somos únicos, mas, se o vizinho trocar de carro, afinal ele tem bom emprego, ralou para cursar uma faculdade, pós graduação latu, mestrado, doutorado, está colhendo os frutos do trabalho, eu, que ganho o suficiente apenas para comer e vestir, trocarei o meu carro também, pagamento em sessenta meses, certamente passarei grandes dificuldades, mas, como sou “única”, singular,  preciso ter o carro igual ao do vizinho. Que ninguém  venha me dizer para poupar e dar uma entrada nesse veículo que, certamente, o preço cairá pela metade, eu quero agora, ta na moda o imediatismo, a impulsividade, o não assumir que sou pobre, o querer ser classe média sem poder, todo mundo faz isso, porque eu, serei o único (a) a não fazer?
Lutamos para ser únicos, porém, hoje eu vou fazer drenagem linfática, afinal, minha vizinha fez, a vizinha da vizinha e a vizinha da vizinha da vizinha da outra vizinha e da outra vizinha da vizinha também fez, como eu não faria? Também farei uma sessão de drenagem encefálica, porque a metade da população deve ter feito, pois, todos possuem o mesmo tipo de pensamento, por isso somos um universo de “únicos”.
Hoje acordei disposta a orar. Quero que Deus me ajude a conseguir encontrar o meu caminho da singularidade.
Quero poder rir e chorar por conta própria, sem vergonha de mostrar fraqueza ou ser piegas. Quero ouvir musica popular, pop music, Black music sem me importar com os rótulos de inculta, de populesca. Quero comer pão branco com margarina e assumir que pão de cereal pode até ser bom para a saude, mas, que o gosto e as partículas de cereais que ficam “zanzando” em minha boca não compensa o sacrifício, muito menos se você comparar as calorias, apesar de terem gramagem diferentes. Quero poder falar que alface é ótima para a saúde, melhora a pele, mas, não se compara a um bom bife acebolado, qualquer opinião divergente é mentirosa, porque no fundo vocês sabem que o sabor de uma folha de alface x bife acebolado não se comparam, o segundo ganha em disparada (mas se você concordar poderá deixar de ser único). Quero poder educar meus filhos dentro de normas sérias de disciplina sem a pataquada (adjetivo de minha avó) de que ele ficará traumatizado, quero poder assumir que tenho gazes, assim como você tem (não precisa torcer o nariz e fazer cara de nojentinha (o) porque seja rico ou pobre, gazes é inerente ao ser humano). Quero ter o direito de comprar produtos que não sejam ligths nem diets porque são caros, o custo benefício nem sempre é o que você espera, porém, você compra porque todo “mundo” compra (ressalvas para quem tem problemas de saúde). Quero poder engordar em paz porque não tenho pretensões que não possam ser alcançadas com dois, cinco ou dez quilos a mais, o poder da produção está no cérebro, e isso eu ainda tenho, apesar das drenagens encefálicas, ressaltando também que se eu engordar ou emagrecer ninguém tem nada com isso, não sou você e você não é eu, eu tenho o direito de pensar por mim mesma. Quero o direito de dizer o que penso, goste você ou não, não nasci para agradar a maioria ou a minoria, nasci porque de algum modo o universo achava que eu deveria nascer. Quero o direito de sorrir quando eu quiser, de usar a roupa que eu quiser, de pensar no que eu quiser, imaginar o que eu quiser. Quero ser singular.

Quero a minha “unicidade”, singularidade, quero ser chata, bacana, quero ser humana.

Quero ser singular.

Bela canção de sting: tradução aqui: exemplificação de singularidade