20 de julho de 2011

"JANELAS DO MUNDO"



Raramente olhamos as pessoas por meio da janela delas. Olhamos as pessoas apenas pelo prisma de nossa janela, o que pode nos remeter para uma história, a da mulher que achava que a vizinha era porca, já que os lençóis no varal da casa vizinha pareciam estar encardidos, visão que caiu por terra no dia em que ela, a vizinha “achista” resolveu lavar a janela e descobriu que na verdade a sujeira não era do lençol.
Tenho, dentro de minha profissão, muitos problemas relacionados a janelas.
Quando temos que trabalhar a questão de jovens em conflito com a lei, quando temos que trabalhar a questão do acolhimento institucional (antigo abrigamento), sempre nos deparamos com os “entendidos”, com aqueles palpiteiros de plantão que acham que deveríamos colocar todas às crianças e adolescentes que apresentam “problemas” sociais embaixo de um grande tapete, de preferência cheio de ácaros (vocês são inteligentes e entenderão porque eu falo isso). Exagero? Convido vocês a prestarem mais atenção.
Porém, o que me deixa pensativa não são os ácaros nem o tapete e sim, a incapacidade que temos de olharmos os problemas através da janela do outro.
As crianças que hoje estão acolhidas institucionalmente em nossa cidade, por exemplo, porque estão lá? Que situação levou aquelas crianças para fora de seus lares?
Os adolescentes que estão na Fundação Casa (antiga Febem), porque estão lá? Que situação os levaram para a medida sócioeducativa com privação de liberdade?
O que você conseguiria ver sobre a história de vida dessas pessoas se você limpasse sua janela? Respondo: talvez você conseguisse enxergar o ser humano que existe dentro de cada um deles.
Em um curso, ouvi uma história muito interessante, que não me lembro na integra, mas, se resumia assim: um grupo de pessoas, que incluía crianças, resolveu cuidar de alguns casulos, pois, queriam ver como nasciam às borboletas. Depois de alguns dias de cuidados e expectativas finalmente as belas borboletas começaram a sair do casulo. Diante de olhos espantados, essas foram devoradas por pássaros. Daí vem à pergunta, o que faço com o pássaro, prende-o ou melhoro a cadeia alimentar?
Será que o problema que o outro apresenta não é falta de estrutura (que aqui se traduz em vários adjetivos, substantivos, etc)?
Porque falamos que amamos o próximo, mas, nos custa a enxergar o próximo através da janela dele? Porque custa-nos ver que o outro também é passível de falhas, medos, anseios, desesperos, destemperos, ilusões, decepções? Porque o problema do outro tem que ser menosprezado? Porque temos a tendência, a pretensão de achar que nossa janela é sempre a mais limpa?