13 de junho de 2011

QUEM SE IMPORTA?


Na sexta passada (10/06) deparei-me com uma cena que me traria, outra vez, reflexões sobre nossa condição de seres humanos.
Era mais ou menos 5hs50min da manhã (aposto que já estão falando mal por eu estar tão cedo na rua, maldosos. Eu estava em um ponto para pegar a condução que me levaria até o HC de Rubião, não me perguntem para fazer o que porque vou achar que é abuso de “suas” partes) quando um homem de mais ou menos quarenta e cinco anos passou por mim, pelo uniforme, supus que estava indo trabalhar. Alguns passos a frente ele para, pega uma latinha de alumínio e a amassa, depois de amassada, bemmm amassada, ele a deposita em uma bolsa que supostamente continha a refeição e alguns utensílios necessários para “varar” mais um dia de trabalho. Como é uma pessoa conhecida e sei que a esposa dele não trabalha e ele tem, além de si próprio, mais três pessoas para sustentar, fiquei imaginando como deve ser árdua a vida daquele homem. Árdua em vários sentidos. Sei que não é uma pessoa que passa fome, porém, fiquei a imaginar como deve ser difícil alguém ter, sozinho, a responsabilidade de sustentar uma casa, suprir as necessidades dos seus dependentes. Naquele momento eu pensei na solidão daquele homem (solidão no sentido de estar jogado nesse mundão sem eira nem beira, tendo apenas a si para “ruminar” os próprios problemas, uma vez que, ninguém se importa).
A latinha é mais um complemento para o escasso salário. Ele não tem mais ninguém além de si para prover os filhos, e daí né, quem se importa? Essa é minha inquietação: quem se importa?
Um e-mail que recebi fala de uma tese de mestrado de um psicólogo social, da USP, Fernando Braga da Costa (aqui TESE ). Ele se vestiu de gari e passou a varrer as ruas do campus. Sentiu na própria pele o que ele chama de “invisibilidade pública”. Chegou também a conclusões obvias: enxergamos apenas as pessoas que tem status, ou as que de certa forma nos proporcionará algum benefício (conheço muita gente assim, que aparece ou te chama de amiga quando é conveniente ou se algo ruim acontece na vida daquela pessoa, aliás, todo mundo precisa de um ombro amigo).
Não vou esmiuçar a tese acima citada porque deixei o link e vocês podem conferir se quiserem, mas, adianto que vale a pena. Só deixo aqui uma frase do Fernando: 'Descobri que um simples bom dia, que nunca recebi como gari, pode significar um sopro de vida, um sinal da própria existência'.
Quem se importa se hoje você está sem o que comer na sua casa? Se você precisa catar latinhas para complementar o orçamento doméstico? Quem se importa se você não tiver com o que se cobrir nessas noites frias? Está se sentindo sozinho, tem um vazio te consumindo, você não sabe mais o que fazer da própria vida? Quem se importa? (agora é lei, cada macaco no seu galho JOTA QUEST ).
Ninguém se importa. Apesar de tantas redes sociais, fundamentadas nas amizades, de tantos e-mails cheios de nove horas (traduzindo: com frases de efeito, coloridos) que você recebe todos os dias.
Além da invisibilidade social, estamos na fase da “vaziabilidade pessoal”. As relações são superficiais, os sentimentos, as falas, as ações. Ninguém se importa.
Estamos na fase da “desimportabilidade social”. Por mais que “nos preocupemos, nos adjetivemos solidários” não nos importamos realmente. No calor de grandes tragédias choramos, mobilizamo-nos, aparece à ânsia de ajudar. Ajudar as pessoas nesses momentos nos trará “importabilidade”, visibilidade. Mentira? Então me responda: já ficou sem visitar um parente ou um amigo doente porque você estava sem tempo? Você já ficou dias sem ver alguém que você diz amar para fazer coisas que te beneficiariam? Já falou um oizinho hoje para todas as pessoas que realmente te ajudam, te amparam? Já foi ver se aquele teu vizinho, parente, amigo que estava passando dificuldades conseguiu ajuda (há várias formas de ajudar: um telefonema para um serviço de saúde, uma indicação para um serviço social. Nem toda ajuda tem relação com o financeiro, pois, essa, eu já nem cito)? Você não fez nada disso, né? Eu também não fiz. Todos estamos inseridos no sistema de “desimportabilidade social”.
É brega ajudar. É coisa de gente tonta (não ta vendo que o fulano ta se fazendo de tonto para comer o C´ do coveiro)? Se eu me “phodo” todos os dias para defender meu pão, que phodas tu, que phodamos nós, que phodais vós.
É triste, mas, é assim que caminha a humanidade.
O assunto é complexo, mas, não quero “complexizar”. É apenas uma divisão. Quem sabe refletindo não consigamos mudar, senão o mundo, pelo menos os espaços a nossa volta.


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