24 de maio de 2011

O PROFESSOR, O BULLYING E O PARADOXO.


Parem tudo, hoje o assunto é sério. Sei que falar de coisa séria é chato, mas, necessário. Quem lhe falou que viver é fácil?
Eu, além de trabalhar na área de defesa dos direitos da criança e do adolescente, sou professora formada. Sou licenciada em Letras português/inglês pela USC (Universidade Sagrado Coração, de Bauru, calma gente, deixa eu explicar, vai que…) mais inglês que português, por isso se encontrarem alguns errinhos, sorry. Lembrando que eu não leciono, porque se eu lecionasse podem estar certos que eu me aplicaria porque não concordo com nada meia boca, ou você faz ou cai fora, porque os outros não precisam pagar o pato por você ser professor, a vida é feita de escolhas. Então, voltando, além de...sou professora e não estou em sala de aula, mas por causa da área em que atuo, não é raro eu ouvir história de que educadores, preparados para exercerem a função, alguns há anos em sala de aula, conhecedores da realidade do “cistema de encino do noço país” são também os “bulleiros”. Isso, o professor, não raro, também participa do processo de “bullinação” (que não é de bulir, pois, essa palavra tem conotação sexual em alguns estados).
Sei que muita gente pode não gostar disso e sei que muitos vão dizer: deixa para quando ela estiver em sala de aula, falar de fora é fácil, quero ver quando se está dentro (isso pode ser bom, depende da conotação do dentro, hehehh). Tá, entendo, sei que tem crianças e crianças, adolescentes e adolescentes, mas também tem educador e educador, e sei também que tem muita gente séria no mercado, fazendo trabalhos maravilhosos. Eu, por exemplo, do primeiro ano de ensino fundamental até o término da faculdade nunca me deparei com professor/problema (também, apesar de me sentar no fundão, nunca dei motivos para professor implicar comigo porque sei meu lugar no espaço terrestre e sei respeitar as pessoas, quando me respeitam, nunca fiquei de castigo e tirei uma nota vermelha, em matemática, obvio, mas, foi logo recuperada), mas, acho incoerente, às vezes, se culpar o sistema, o aluno, a família disfuncional pelos problemas de sala de aula. Tem professor que discrimina sim senhor.
Uma das coisas que mais se ouve é: aquele aluno não tem mais jeito. Também, você conhece a família dele? Eu sei por que até eu, às vezes, me pego nessa situação, de julgar a criança, o adolescente, ou até mesmo o adulto, sem fundamento, apenas com base no perfil da família
Se o aluno a ser inserido em sala de aula tiver passagem pela Fundação Casa ou estiver em medida sócieducativa, se prepare, porque a coisa fica pior. Todo aquele discurso lindo de que a educação pode mudar uma vida, dar um novo direcionamento na vida de alguém, vai por água abaixo. Tem pessoas que ligam nos conselhos (o problema não é prioridade nossa, acontece no país todo) para perguntar do histórico do adolescente (como se os conselhos pudessem passar essa informação e como se esse critério, se estiver em medida não pode ir à escola, fizesse parte de algum artigo do Eca (estatuto da criança e do adolescente), ou da Constituição Federal ou da Declaração Universal dos Direitos Humanos), com a intenção de “oferecer um tratamento diferenciado” para esse aluno. Todo o problema que acontecer com esse aluno é porque ele está em medida, nada é feito para receber, integrar, ajudar, a maneira mais rápida de tirar essa cárie da escola é excluindo, assim, se sentindo rejeitado, o aluno tem duas opções, ou cai fora, para alivio da nação que prega educação para todos, ou ele infernizará a vida de todos, na intenção de incomodar mesmo, uma vez que, ele não foi aceito, e aí vem os B.Os, uma maneira rápida e fácil de devolver o aluno/problema para a Fundação Casa. Não reclame quando o mesmo, já com pós graduação na arte do infracionar, invadir sua casa, colocar uma arma na sua cabeça, você teve a chance de fazer diferente e não fez por preconceito. Lidar com problemas é fácil? Não, mas, como eu disse no começo: quem disse que viver é fácil?
Sei que o discurso é lindo e não para por ai. Sei que o comportamento de alguns alunos incomoda, e muito. Tem adolescente que realmente merecem a Fundação Casa, por seus comportamentos absurdos perante a sociedade, o que não pode é nivelar, colocar todo aluno na mesma categoria, sem ouvir seus sonhos, seus anseios, seus desejos de mudanças.
Professor em sala de aula chamando aluno de GARDENAL, gorda, burro, é, no mínimo, incoerente. Explique incoerente. Explico: esses mesmos educadores fazem trabalhos em sala de aula falando de preconceito, de bullying, de discriminação, de violência psicológica, assédio moral, etc,,, e falam também em inclusão social, em se preparar para exercer a cidadania.
Não é uma crítica. É apenas um pedido para refletirmos.
Nos últimos dias me deparei com histórias de sucesso e superação. Alunos, adolescentes rotulados, socialmente condenados, deram a volta por cima e são grandes profissionais. Se tivessem levado a sério os rótulos, estariam, ainda, no mundo do crime, ou teriam se integrado a esse.
Deixo para vocês a bela história do educador Geoffrey Canada, nascido nos becos de Nova York, em um bairro violento em que o quesito educação era artigo de luxo. Geoffrey perdeu um irmão para o crime, fora assassinado aos vinte e dois anos, mas Geoffrey conseguiu chegar em Harvard (Harvard é ahhhhhh, universidade, uma das mellhores do mundo) e mudou a história social e educacional de seu bairro.(http://vilamundo.org.br/2011/05/conheca-a-historia-do-bairro-de-harlem-em-nova-iorque/).
            Também indico o filme O Contador de Histórias. Filme biográfico que conta a história de Roberto Carlos Ramos. Internado na antiga Febem pela própria mãe, que acreditava que na instituição seu filho teria acesso a educação de qualidade, Roberto conhece o crime, as drogas. Envolto em crimes Roberto conhece uma pedagoga francesa que, ao acreditar no potencial do adolescente, esse era um exímio contador de história, oferece a esse uma chance mudar de vida. O filme tem cenas fortes, mas é lindíssimo.
 
Por último indico o livro Os Filhos do Governo, de Roberto Silva. O livro é uma tese de mestrado, da USP (gravem isso, da UUUUUUUUSP), em que o autor, ele mesmo ex interno da Febem, reflete sobre os efeitos devastadores desses sistemas asilares na vida do individuo.(http://www.proceedings.scielo.br/scielo.php?pid=msc0000000082005000200078&script=sci_arttext)
Se sentença é de que alunos/problemas não terão futuro, acho que teremos que mudar nossos conceitos ou, pelo menos, parar de hipocrisia. O bullying precisa ser discutido por todos, inclusive pelos atores principais, porque o assunto está mascarado por paradoxos.
UMA DISCUSSÃO PARA OS PAIS, PROFESSORES E SOCIEDADE,,,
SERÁ QUE APENAS O ALUNO É RESPONSÁVEL PELO PROBLEMA DE BULLYING EM SALA DE AULA?
NENHUM PROFESSOR DISCRIMINA OU SELECIONA SEUS FAVORITOS? ISSO TBM NÃO É DISCRIMINAÇÃO? PORQUE QDO SE DISCUTE O BULLYING SE EXCLUI O PROFESSOR, O GESTOR, A EQUIPE ESCOLAR? COMO TRATAM O SEU FILHO NA ESCOLA, PÚBLICA OU PRIVADA?
 Pronto, falei. 

2 comentários:

  1. meu filho esta sendo descriminado pela professora.ele faz os trabalhos iguais dos colegas,ela corrige o dele e manda refazer em letras grandes e vermelha,os dos outros ela arruma e aceita.fez ele colocar um cachorro quente dentro da mochila,no meio dos cadernos,não deixou comer porque tinha acabado o recreio,mandou copiar o hino,como ele esqueceu alguns parágrafos,ela mesma apagou tudo e mandou ele refazer.se alguem faz algo e ele se queixa ,ela chinga ele.ele só tirava 100,98,96,100,97...com ela,30,50 55.....é muito estranho,ele chorou e disse não querer ir mais para a escola,esta indo ,quarta série,e é a primeira vez que dá problemas,com esta professora,o que é isto,já ameaçei e se continuar vou tomar providencias.

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  2. Você tem o direito de participar da vida escolar. Na questão do andamento em sala de aula, a falta de respeito do professor para com o aluno você pode usar a seu favor o arigo 53 do Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) que diz:“Art. 53 – A criança e o adolescente têm direito à educação, visando ao pleno desenvolvimento de sua pessoa, preparo para o exercício da cidadania e qualificação para o trabalho, assegurando-se-lhes:
    I – igualdade de condições para o acesso e permanência na escola;
    II – direito de ser respeitado por seus educadores; BOA SORTE E BOA LUTA.

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