Ando sempre rodeada por mulheres (não que seja uma
preferência, rss), e, hoje ao caminhar com uma dessas uma conversa informal me
chamara à atenção. Estávamos em nossa caminhada rotineira quando essa me
dissera que anda preocupada com o pai, que esse anda a apresentar alguns
probleminhas de saude que a deixam pensativa.
Esses dias minha irmã me falara que meu pai andava a me
enganar. Quando deixo conta para ele pagar na cidade de Lençóis Paulista ele me
pede dinheiro a mais alegando ser para a passagem, mas, segundo ela, ele não
paga mais passagem (ele é meu pai, mas, é ordinário, rss, como pode fazer isso
com uma filha tão dedicada como eu?).
Esses pedaços de vida representam uma realidade: nossos pais
estão envelhecendo. Estava tão preocupada com meus afazeres que não percebi que
meu pai passara dos sessenta anos (apesar de minha juventude, rss). Hoje, ao
comentar sobre o assunto minha amiga se emocionara e disse nem querer pensar que
os anos passaram para seu pai, que esse possa apresentar problemas inerentes a
velhice.
Minha avó é uma bela mulher negra dentro de seus oitenta e
cinco anos. Até pouco tempo atrás tirávamos sarro dela por ter se casado com um
italiano de olhos verdes em pleno começo do século XX, época em que o
preconceito era mais escancarado que atualmente (explicado agora porque eu
tenho essa cor linda né, rss, sempre bronzeada?). Hoje, dependendo do dia é difícil
contar a ela sobre qualquer história de seu passado, mesmo ela vivendo quase o
dia todo no passado. Minha avó começara
a contar histórias das quais não fazemos parte. De repente, ela entra em seu
mundinho imaginário e fala de pessoas que a querem matar, de meninos que a
espiam pelo muro (as janelas precisam ficar fechadas o tempo todo, pois, caso
contrário ela se martiriza só com a possibilidade de estar sendo vista nua). Muita
coisa na rotina da casa está sendo alterada para caber essa nossa avó, que para
nós parece uma pessoa estranha, de tão estranha é a realidade que ela nos
apresenta, cheia de pessoas desconhecidas, maldosas (segundo ela a mulher, que
não sabemos quem, persegue-a, quer matá-la, quer matar meus tios, tem dias em
que ela até pede para meus tios não saírem de casa, com medo da tal mulher),
isso sem contar os dias que ela passa “limpando” porco, distribuindo,
imaginariamente, a carne desses porcos para os vizinhos e parentes.
A casa de minha mãe é o alicerce da família. Quase todos os
domingos nós, filhas (tenho mais duas irmãs), netos (meus dois amores), tios,
tias, primos, primas, vizinhos, agregados, rss, nos reunimos para o almoço. Às
vezes, me pergunto até quando essas reuniões serão assim, com meus pais por
perto, minha avó (doidinha, mas, presente, rss). É difícil imaginarmos que tudo
passa, inclusive os anos para as pessoas que amamos, inclusive para nós.
Fico a imaginar como deve ser, de repente, você perder suas
referências? Me pergunto se há algum momento de lucidez em que consigamos
imaginar que não nos lembramos mais dos nossos filhos, mesmo os vendo ali, na
sua frente? Como é não saber mais quem somos, não saber se nos deram banho, se
comemos? Penso nas pessoas que envelhecem e são colocadas em casa de repouso. Sei
que há pessoas que precisam tomar essa atitude, não estou a condenar a atitude,
apenas queria entender como é para o idoso (que um dia foi um de nós e nós
seremos um deles) ser arrancado de perto de sua essência: casa, cheiros,
filhos, netos, vizinhos, do cheiro do seu travesseiro, de perto de seu jardim. Na
velhice, assim como na infância, perdemos o direito às escolhas, perdemos o direito
da fala, do expor opiniões.
Para algumas pessoas pode ser cedo, ou achar chato pensar
no amanhã, pensar na situação dos pais, dos avós, mas, como diz uma música do
Lulu Santos: hoje o tempo voa amor, escorre pelas mãos.
Perdemos tempo em não amar, preocupados em construir. Construir
o que? Para que? Para quem? Tudo é efêmero, nada é para sempre,nem a juventude, nem a beleza, nem a vida,
infelizmente.
imagens do google.
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