15 de março de 2013

CADUCO?


Ando sempre rodeada por mulheres (não que seja uma preferência, rss), e, hoje ao caminhar com uma dessas uma conversa informal me chamara à atenção. Estávamos em nossa caminhada rotineira quando essa me dissera que anda preocupada com o pai, que esse anda a apresentar alguns probleminhas de saude que a deixam pensativa.
Esses dias minha irmã me falara que meu pai andava a me enganar. Quando deixo conta para ele pagar na cidade de Lençóis Paulista ele me pede dinheiro a mais alegando ser para a passagem, mas, segundo ela, ele não paga mais passagem (ele é meu pai, mas, é ordinário, rss, como pode fazer isso com uma filha tão dedicada como eu?).
Esses pedaços de vida representam uma realidade: nossos pais estão envelhecendo. Estava tão preocupada com meus afazeres que não percebi que meu pai passara dos sessenta anos (apesar de minha juventude, rss). Hoje, ao comentar sobre o assunto minha amiga se emocionara e disse nem querer pensar que os anos passaram para seu pai, que esse possa apresentar problemas inerentes a velhice.
Minha avó é uma bela mulher negra dentro de seus oitenta e cinco anos. Até pouco tempo atrás tirávamos sarro dela por ter se casado com um italiano de olhos verdes em pleno começo do século XX, época em que o preconceito era mais escancarado que atualmente (explicado agora porque eu tenho essa cor linda né, rss, sempre bronzeada?). Hoje, dependendo do dia é difícil contar a ela sobre qualquer história de seu passado, mesmo ela vivendo quase o dia todo  no passado. Minha avó começara a contar histórias das quais não fazemos parte. De repente, ela entra em seu mundinho imaginário e fala de pessoas que a querem matar, de meninos que a espiam pelo muro (as janelas precisam ficar fechadas o tempo todo, pois, caso contrário ela se martiriza só com a possibilidade de estar sendo vista nua). Muita coisa na rotina da casa está sendo alterada para caber essa nossa avó, que para nós parece uma pessoa estranha, de tão estranha é a realidade que ela nos apresenta, cheia de pessoas desconhecidas, maldosas (segundo ela a mulher, que não sabemos quem, persegue-a, quer matá-la, quer matar meus tios, tem dias em que ela até pede para meus tios não saírem de casa, com medo da tal mulher), isso sem contar os dias que ela passa “limpando” porco, distribuindo, imaginariamente, a carne desses porcos para os vizinhos e parentes.
A casa de minha mãe é o alicerce da família. Quase todos os domingos nós, filhas (tenho mais duas irmãs), netos (meus dois amores), tios, tias, primos, primas, vizinhos, agregados, rss, nos reunimos para o almoço. Às vezes, me pergunto até quando essas reuniões serão assim, com meus pais por perto, minha avó (doidinha, mas, presente, rss). É difícil imaginarmos que tudo passa, inclusive os anos para as pessoas que amamos, inclusive para nós.
Fico a imaginar como deve ser, de repente, você perder suas referências? Me pergunto se há algum momento de lucidez em que consigamos imaginar que não nos lembramos mais dos nossos filhos, mesmo os vendo ali, na sua frente? Como é não saber mais quem somos, não saber se nos deram banho, se comemos? Penso nas pessoas que envelhecem e são colocadas em casa de repouso. Sei que há pessoas que precisam tomar essa atitude, não estou a condenar a atitude, apenas queria entender como é para o idoso (que um dia foi um de nós e nós seremos um deles) ser arrancado de perto de sua essência: casa, cheiros, filhos, netos, vizinhos, do cheiro do seu travesseiro, de perto de seu jardim. Na velhice, assim como na infância, perdemos o direito às escolhas, perdemos o direito da fala, do expor opiniões.
Para algumas pessoas pode ser cedo, ou achar chato pensar no amanhã, pensar na situação dos pais, dos avós, mas, como diz uma música do Lulu Santos: hoje o tempo voa amor, escorre pelas mãos.
Perdemos tempo em não amar, preocupados em construir. Construir o que? Para que? Para quem? Tudo é efêmero, nada é para sempre,nem a juventude, nem a beleza, nem a vida, infelizmente.

imagens do google.

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