21 de abril de 2011

O "CASULO" DOS DEPENDENTES.


Quando eu passar mal eu não quero que me vocês me socorram, podem me deixar morrer.
Não sei por que vocês se preocupam em me levar para o médico, me socorrem depois ficam me dando sermão. Um homem que trabalha tem o direito de beber sua pinga para jantar (obs.* esse homem não tem sessenta anos e não trabalha há mais de quatro anos, segundo ele, sente fortes dores nas pernas, ele se recusa a ir ao médico, se trata com uma benzedeira, a mãe dele, com oitenta e quatro anos é quem o sustenta, porém, esse mesmo homem não sente nenhuma dor para ir até um bar). Aliás, a mãe que me referi nos parênteses é uma das motivadoras da família, é por ela que ainda se luta para ver a pessoa dependente sã, tendo um mínimo de qualidade de vida, qualidade essa que ele, o dependente, não está muito preocupado em ter. Já perdeu a casa, a esposa e perdeu grande parte do desenvolvimento dos filhos, assim como o respeito desses, esperam-se que agora esse consiga ver o desenvolvimento do neto, apesar desse morar em outra cidade, os filhos foram embora de casa por não suportarem mais viver e ver o abandono.
As dezenove, mais tardar às vinte horas, a esposa já está “sozinha”. Se por acaso essa precisar de ajuda de um médico ou se precisar de alguma coisa com urgência, terá que fazer sozinha (se for possível) ou contar com a ajuda de terceiros, pois, o companheiro, pessoa com quem ela se casou muito jovem, com juras e juras de amor, fidelidade, “companheirismo”, já está a dormir, após ter se embriagado antes de chegar em casa. Novamente a velha história, sai do trabalho cansado, tem que tomar umas e outras para espairecer, tirar o cansaço (imagina se todas as mulheres que trabalham fora hoje em dia tivessem a mesma idéia, como ficaria a casa e os filhos, chegando marido e esposa embriagados em casa após um dia de trabalho estressante? Mas, não seria um direito nosso, afinal também nos cansamos, nos estressamos, ou não??).
A vida de uma mulher casada, ou namorada, ou ficante (ou fincante) etc.(não vou falar muito da família porque quero destacar mais a parte que envolve a relação homem x mulher, vice versa) com alguém que tem algum vício não é fácil, assim como não deve ser fácil a vida de um homem que se vê nessa situação, uma vez que vícios não são privilégios da ala masculina.
 A impressão que se tem é que a pessoa que detém o vício se amarra dentro de si, não consegue dimensionar o espaço e o sofrimento do companheiro, não consegue enxergar as dores que causam (se enxergam não sabem como agir, eu acho). Brigas, agressões (verbais, físicas, psicológicas), discussões, acusações, abandono, carências, humilhações, cansaço, desesperança, depressão, etc. são palavras amplamente encontradas no cotidiano de quem teve a infelicidade de se envolver com alguém viciado em algo (digo algo, pois, vícios podem ser em relação às drogas, ao álcool, ao jogo, ao sexo (huummm) etc., portanto, vou me ater ao quesito álcool por ser mais comum os conflitos com esse “algo” e por ser um assunto que tenho conhecimento de causa, há casos na familia). É complicado tentar fazer o outro olhar o outro. É como se a pessoa viciada, dependente, vivesse em um casulo, o outro é mero galho para o casulo se segurar, o “encasulado” não percebe a importância do galho, o quanto esse, às vezes, se enverga para não deixá-lo cair. O “vicidente” (para não perdermos tempo escrevendo viciado ou dependente, aliás, viciado é uma palavra feia, forte) não percebe as tempestades pelas quais passa o galho para que o encasulado não se perca.
Vejo que as relações com pessoas “vicidentes” são relações contraditórias. Essas juram que amam, mas, machucam, e muito, a quem amam (seja por meio dos atos, seja por meio de palavras, seja por meio do abandonar-se em si, sem deixar o outro amar ou ser amado de maneira plena porque o vicidente está muito ocupado consigo mesmo).
Uma pessoa me relatou: “quando cheguei da escola, por volta das vinte e duas horas, o quarto estava com vômitos por toda a parte e meu marido dormia, embriagado, sobre o próprio vomito. “ Tive que dar banho nele, trocar as roupas de cama e ir dormir em outro quarto (o casal tem três filhos menores, todos presenciaram o dia “estressante” do pai). No outro dia, ele limpou o quarto, mas sobrou para eu lavar as roupas sujas. Fico tentando imaginar porque antes de se embriagar a pessoa não pensou nas conseqüências. Expor esposa e filhos a essa cena deplorável simplesmente porque você se acha no direito de tomar umas e outras após o expediente. E o direito dos filhos de viverem em um ambiente saudável? E o exemplo de pai, onde fica nesse momento?
Em meu trabalho é comum você ouvir relatos de abandono (intelectual, material, principalmente) relacionados ao vicio de bebidas. Comum também o relato e denuncias que genitores, embriagados (homens e mulheres) vão às portas das escolas buscarem os filhos, expondo esses a “chacotas” dos coleguinhas, expondo os filhos ao vexame. Vexame que todos percebem menos a pessoa causadora dele.
Conheço pessoas que nos últimos anos perderam o suficiente para comprarem carros, casas, pagarem faculdade dos filhos, por apostarem viciosamente em jogos de azar (e a família, filhos e esposa ali, sofrendo privações, para não verem um membro da família morto por divididas e para não colocarem a si próprios a mercê de bandidos. Todos temem, todos lutam, todos perdem e todos se dão conta da perda, menos o vicidente).
Não sou uma pessoa GUINO = “guinorante” sei que existe muita complexidade no tema e sei que existem pessoas e pessoas. Não quero aqui simplificar nem estigmatizar, nem isso nem aquilo, blá, blá, blá. Não vou navegar por águas profundas porque eu não sei nadar e sou pesadinha para flutuar. Apenas queria dividir com os amigos essas questões: porque é tão difícil sensibilizar uma pessoa dependente química (ou não química)? Por que essas não conseguem, na maioria das vezes nem com tratamento, saírem de si? Como amar e ser amado (a) de forma completa quando há um vicio entre o casal (ás vezes não da p/ se separar porque o amor existe e é forte,) O que acontece no casulo?


Um comentário:

  1. O "CASULO" DE MINHA ALMA...MINHA LAGARTA
    TRISTONHA...
    ONDE POSSO SER LIVRE...ONDE POSSO SER EU...
    ATÉ QUANDO POSSO SUPORTAR?ABANDONAR O CASULO?
    ALICERÇAR O MEU INTERIOR,E......
    TRANSFORMAR-ME EM UMA LINDA BORBOLETA VOAR LIVREMENTE E ME SURPREENDER COM O SENTIDO DA VIDA.MAS VEJO QUE SOU APENAS UMA LAGARTA PRESA EM UM CASULO COM MEDO DA TRANSFORMAÇÃO....
    E SEMPRE ME PERGUNTANDO ATÉ QUANDO???

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